Portugal é o paraíso do fisco


Num país onde praticamente o que é do Estado está a ser destruído por falta de manutenção ou mão de obra, o fisco é a única instituição que funciona na ponta da unha


1. Num país onde o Estado falha em praticamente tudo, começando na segurança social, no ordenamento territorial, na justiça, na respeitabilidade da política, na comunicação com os cidadãos, no ensino ou mais genericamente na educação, na manutenção das infraestruturas,  na segurança, nos socorros e, mais recentemente, no Serviço Nacional de Saúde podemos, porém, orgulharmo-nos de uma coisa nossa que é do melhor que há no mundo: o fisco. Essa organização dá pelo nome de Autoridade Aduaneira e Tributária e, na realidade, é uma polícia cheia de poderes diretos não controlados.

A dita autoridade fiscal funciona na ponta da unha, raramente se engana e dúvidas nem sabe o que são. Não hesita em perseguir na hora qualquer cidadão sobretudo por pequenas falhas, pois as grandes são outros quinhentos como popularmente se diz. No país em que tudo falha, a Autoridade Tributária é o nosso orgulho, a nossa glória e um exemplo para o mundo! É tão boa que até se presta a cobrar dívidas de empresas privadas, enquanto leva meses ou anos a devolver o dinheiro que cobra a mais, fazendo as interpretações que mais lhe convém. Deveria haver pelo menos o cuidado de ter maior deferência com os cidadãos que sustentam aquela máquina bem oleada, os quais certamente teriam direito a receber notificações explicitas, claras, de interpretação linear e em português percetível e escorreito. Mas não. Mesmo que se reconheça que os funcionários, por sinal com greve marcada por estes dias, até são normalmente diligentes e competentes, sobra o problema de que toda aquela máquina é um insensível aspirador de dinheiro. Em impostos diretos e indiretos os portugueses são dos que mais pagam e menos recebem, tendo um país está a cair aos bocados. Todos os dias, cada português vive na pele ou é informado das falhas do Estado através da comunicação social ou das redes sociais. Relativamente ao cidadão comum, o nosso fisco é um troglodita implacável. Há, claro, as exceções de certos perdões fiscais e de alguns acordos que são pelo menos estranhos, embora se possa reconhecer que nalguns casos partem mais de governantes e de legisladores do que diretamente do fisco. Só que envolvem muitos milhares de milhões. É a tal história do tipo que deve uns cobres ao banco e que, por isso, tem um problema com ele, enquanto um outro que deve milhares de milhões inverte a situação e passa a ser o banco a ter um problema de solvibilidade.

2. Por falar em dinheiro e problemas, recorde-se que é já amanhã que se realiza a Assembleia Geral (AG) da Associação Mutualista do Montepio Geral. A data escolhida não podia ser melhor para reduzir o número de participantes e tomar as decisões mais convenientes a quem controla a instituição. E ninguém acredita que o presidente da AG, o eterno padre Melícias, não tenha feito de propósito. A associação é a dona do banco Montepio e não está manifestamente saudável. E há entre ambas as instituições do Montepio um fenómeno de osmose permanente. Qualquer coisa do género: um espirro da associação pode levar a uma grave pneumonia no banco. A tutela, o governo no seu todo, os supervisores e até a maioria dos mutualistas escondem a cabeça na areia e não olham para a preocupante realidade. Um destes dias, a coisa pode mesmo correr mal. Depois serão todos os contribuintes a pagar para resolver uma pequena parte do problema, porque a outra parte pode perder-se como se tem visto noutros casos: BPN, BES/ BANIF/ BPP para ficar só pelos mais recentes.

3. Um monstro de betão e vidro está a nascer em Alcântara. É um novo hospital privado que tem uma frente de mais de 150 metros. A coisa promete gigantescos engarrafamentos no futuro, numa zona já saturada. Ao que parece, foi feito tudo na maior legalidade e com consulta pública, uma daquelas coisas a que quase ninguém liga. À obra fica também ligado o influente vereador Manuel Salgado, exatamente o mesmo que também teve estreita ligação ao monstro que é a torre horrível e fora das regras que nasceu na Fontes Pereira de Melo, também em Lisboa. Quanto às ruas onde circulamos, é o que sabe: buracos e mais buracos. Vá lá que os lisboetas têm duas coisas a funcionar em pleno: os capangas da EMEL e a polícia municipal tão bem equipada como inútil.

4. Há dias perdi um amigo. Chamava-se Jorge Daniel. Um grande profissional da RDP e da RTP. Tipo sério e com mau feitio, como os melhores seres humanos. Não soube nada por não ter Facebook e não sei mais o quê de redes sociais. Pela primeira vez tive pena dessa info exclusão. Ainda acreditava que telemóvel, telefixo, e-mail e outros meios de contacto fossem suficientemente eficazes. Enganei-me. Mesmo assim não vou ceder. Adeus Jorge e desculpa-me lá isso. Falamos lá em cima. Forte Abraço.

Jornalista


Portugal é o paraíso do fisco


Num país onde praticamente o que é do Estado está a ser destruído por falta de manutenção ou mão de obra, o fisco é a única instituição que funciona na ponta da unha


1. Num país onde o Estado falha em praticamente tudo, começando na segurança social, no ordenamento territorial, na justiça, na respeitabilidade da política, na comunicação com os cidadãos, no ensino ou mais genericamente na educação, na manutenção das infraestruturas,  na segurança, nos socorros e, mais recentemente, no Serviço Nacional de Saúde podemos, porém, orgulharmo-nos de uma coisa nossa que é do melhor que há no mundo: o fisco. Essa organização dá pelo nome de Autoridade Aduaneira e Tributária e, na realidade, é uma polícia cheia de poderes diretos não controlados.

A dita autoridade fiscal funciona na ponta da unha, raramente se engana e dúvidas nem sabe o que são. Não hesita em perseguir na hora qualquer cidadão sobretudo por pequenas falhas, pois as grandes são outros quinhentos como popularmente se diz. No país em que tudo falha, a Autoridade Tributária é o nosso orgulho, a nossa glória e um exemplo para o mundo! É tão boa que até se presta a cobrar dívidas de empresas privadas, enquanto leva meses ou anos a devolver o dinheiro que cobra a mais, fazendo as interpretações que mais lhe convém. Deveria haver pelo menos o cuidado de ter maior deferência com os cidadãos que sustentam aquela máquina bem oleada, os quais certamente teriam direito a receber notificações explicitas, claras, de interpretação linear e em português percetível e escorreito. Mas não. Mesmo que se reconheça que os funcionários, por sinal com greve marcada por estes dias, até são normalmente diligentes e competentes, sobra o problema de que toda aquela máquina é um insensível aspirador de dinheiro. Em impostos diretos e indiretos os portugueses são dos que mais pagam e menos recebem, tendo um país está a cair aos bocados. Todos os dias, cada português vive na pele ou é informado das falhas do Estado através da comunicação social ou das redes sociais. Relativamente ao cidadão comum, o nosso fisco é um troglodita implacável. Há, claro, as exceções de certos perdões fiscais e de alguns acordos que são pelo menos estranhos, embora se possa reconhecer que nalguns casos partem mais de governantes e de legisladores do que diretamente do fisco. Só que envolvem muitos milhares de milhões. É a tal história do tipo que deve uns cobres ao banco e que, por isso, tem um problema com ele, enquanto um outro que deve milhares de milhões inverte a situação e passa a ser o banco a ter um problema de solvibilidade.

2. Por falar em dinheiro e problemas, recorde-se que é já amanhã que se realiza a Assembleia Geral (AG) da Associação Mutualista do Montepio Geral. A data escolhida não podia ser melhor para reduzir o número de participantes e tomar as decisões mais convenientes a quem controla a instituição. E ninguém acredita que o presidente da AG, o eterno padre Melícias, não tenha feito de propósito. A associação é a dona do banco Montepio e não está manifestamente saudável. E há entre ambas as instituições do Montepio um fenómeno de osmose permanente. Qualquer coisa do género: um espirro da associação pode levar a uma grave pneumonia no banco. A tutela, o governo no seu todo, os supervisores e até a maioria dos mutualistas escondem a cabeça na areia e não olham para a preocupante realidade. Um destes dias, a coisa pode mesmo correr mal. Depois serão todos os contribuintes a pagar para resolver uma pequena parte do problema, porque a outra parte pode perder-se como se tem visto noutros casos: BPN, BES/ BANIF/ BPP para ficar só pelos mais recentes.

3. Um monstro de betão e vidro está a nascer em Alcântara. É um novo hospital privado que tem uma frente de mais de 150 metros. A coisa promete gigantescos engarrafamentos no futuro, numa zona já saturada. Ao que parece, foi feito tudo na maior legalidade e com consulta pública, uma daquelas coisas a que quase ninguém liga. À obra fica também ligado o influente vereador Manuel Salgado, exatamente o mesmo que também teve estreita ligação ao monstro que é a torre horrível e fora das regras que nasceu na Fontes Pereira de Melo, também em Lisboa. Quanto às ruas onde circulamos, é o que sabe: buracos e mais buracos. Vá lá que os lisboetas têm duas coisas a funcionar em pleno: os capangas da EMEL e a polícia municipal tão bem equipada como inútil.

4. Há dias perdi um amigo. Chamava-se Jorge Daniel. Um grande profissional da RDP e da RTP. Tipo sério e com mau feitio, como os melhores seres humanos. Não soube nada por não ter Facebook e não sei mais o quê de redes sociais. Pela primeira vez tive pena dessa info exclusão. Ainda acreditava que telemóvel, telefixo, e-mail e outros meios de contacto fossem suficientemente eficazes. Enganei-me. Mesmo assim não vou ceder. Adeus Jorge e desculpa-me lá isso. Falamos lá em cima. Forte Abraço.

Jornalista