As greves assassinas


O direito à greve é um direito elementar. E a greve, para produzir efeitos, tem de incomodar. Mas já chega. Tem de haver limites


Nos tempos que correm é cada vez mais frequente assistir-se a movimentos e posições contra aquele que é um dos mais elementares direitos de qualquer trabalhador, que é o direito à greve. Não sou dos que partilham dessa postura, até porque sê-lo representa a violação de princípios por lei devidamente consagrados. Muito menos o sou quando basta vermos o estado em que o país se encontra e as dificuldades que todos, cada um à sua maneira, sentimos no nosso dia-a-dia. Culpa aqui do governo porque, tal como um dia alguém disse, “falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada! Fico chateado, é claro que fico chateado”.

Ora, não sendo contra as greves, obviamente compreendo o argumento de que, para existir uma greve, a mesma tem de incomodar. Até aqui, tudo certo. Para não incomodar, era preferível que não as houvesse. Porém, como em tudo na vida, tem de haver bom senso. Esse mesmo bom senso que parece agora não mais imperar neste país. Dou três exemplos claros para sustentar esta minha opinião – mas, de antemão, digo novamente que compreendo e não ponho em causa aquilo que os trabalhadores reivindicam pelas dificuldades diárias que passam. Comecemos pelos estivadores. Pode alguma vez admitir-se o tempo que esta greve já leva? Sobretudo em Setúbal onde, tanto quanto julgo saber, os trabalhadores, já tendo garantido o que reivindicavam, dizem ainda assim só voltar a trabalhar quando o mesmo acontecer em todos os portos, sendo os sindicatos até distintos? Não terá de haver o mínimo de cuidado com o assassínio que se está a fazer à economia? Em segundo lugar, pensemos na greve dos guardas prisionais. Por favor!

Admite-se alguma vez que esta greve seja na época natalícia, quadra em que, se todos sentimos mais que nunca a necessidade de ter a família connosco, quem está preso certamente o sentirá muito mais? Onde está a humanidade nesta circunstância? Humanidade e até sentido de perigo pelas convulsões que, como já aconteceu, daqui resultam dentro dos estabelecimentos prisionais? Por último, a greve dos enfermeiros. Como se pode aceitar que devido à greve haja, segundo os números indicados pelo governo, cinco mil cirurgias urgentes em atraso? Nestas, pode haver quem já não consiga recuperar da situação em que se encontre e, em último caso, possa mesmo morrer. Não estarão estes profissionais de saúde, formados para salvar vidas, a assassinar a própria ética da sua profissão? Será que vale tudo nas greves? Sou dos que pensam que não e, sobretudo, sou dos que acham que já chega! Tem de haver limites.

 

Escreve à sexta-feira