A nossa Assembleia, o segundo órgão de soberania da República (o primeiro é o Presidente), às vezes faz lembrar uma sala de aula. E nem sequer de nível universitário, apesar da disposição em anfiteatro, como há nalgumas faculdades. Uma sala de aula cheia de miúdos traquinas. Este faz corninhos na direção de um adversário; aquele põe o telemóvel a tocar uma corneta de tourada no momento de uma votação importante; outra pinta as unhas; outros ainda estão permanentemente na galhofa, sem prestarem qualquer atenção ao orador. Quando nem os próprios deputados parecem levar a sério aquilo que fazem, será suposto os cidadãos portugueses fazerem-no?
Mas muito mais grave ainda do que essas pequenas patifarias são as fraudes que têm vindo a lume nos últimos tempos: presenças-fantasma, moradas falsas para obter direito a subsídios de viagem, despesas que ninguém controla. Quando, num país que não é propriamente rico, como Portugal, o líder parlamentar do partido do governo recebe 500 euros por semana para viagens que não faz – a acrescer ao salário –, algo seguramente não bate certo. E depois há os deputados do PSD que mandam alguém assinar a folha de presenças por eles. Lembro-me de na escola secundária haver alunos que recorriam a esse estratagemas com professores mais distraídos – a diferença é que os alunos não ganhavam um prémio em dinheiro por cada presença na aula.
Se algumas intervenções que vamos ouvindo aqui e ali, na TV ou na rádio, já nos suscitam sérias dúvidas sobre o nível dos deputados, estas falcatruas desacreditam completamente o parlamento. Por muito bem falantes e engravatados que se apresentem, será difícil não ver alguns parlamentares como pouco mais do que alunos traquinas. Com um professor mais exigente, seriam mandados para a rua, alguns com falta disciplinar. Mas já se sabe que a exigência nunca foi o nosso forte, por isso o mais certo é continuarem alegremente em roda livre.