A caminho da superficialidade


Parece-me que os temas que são absolutamente decisivos para o nosso futuro próximo estão a ser postos em terceiro plano, ou nem sequer estão a ser discutidos


O bom de um regime democrático é que cada um pode em teoria fazer o que quiser desde que tenha possibilidades para isso, e que não interfira na liberdade e nos direitos dos outros. Não é por isso minha intenção dizer às pessoas o que devem ou não ver, ou que o que mais lhes convém deveria ser isto ou aquilo. Isso será, à partida, do domínio de cada um. Não deixo, no entanto, de registar com preocupação o caminho da superficialidade que a nossa comunicação social, (com ênfase na televisão) tem escolhido como conteúdo predominante. Como é que podem depois vir regatear o voto consciente do Povo e como é que se podem insurgir contra o apoio manifestado a crescentes movimentos radicais – e inclusive a aceitação de uma forma natural de líderes com tiques ditatoriais – se aquilo que escolhem para abertura dos jornais e para a sua programação (sobretudo no horário nobre) é, para além de uma valente porcaria, de um interesse absolutamente nulo?

Já se sabe que as pessoas “comem” o que lhes metem à frente, também é sabido que o jornalismo dito sensacionalista é mais procurado pelas pessoas. Acho que há espaço para tudo, agora irem todos “atrás da bola” é que acho ridículo, redundante e perigosamente inócuo. Quando os canais de informação escolhem passar a tarde inteira a passar as mesmas imagens de Bruno de Carvalho e do tal de Mustafá, sempre a dar as mesmas informações, a recolher depoimentos nas ruas de pessoas que nem sabem bem o que se está a passar e quando ainda têm o dislate de abrir os telejornais com o mesmo tema e estendem-se após o seu término fazendo extensos programas de debate com comentadores de “vão de escada” – alguns desempregados e políticos (sim esses vão a todas) – é passar todos os limites da racionalidade. E isso, no meu entender, pagar-se-á caro no futuro.

Nós não temos, obviamente, de ter os mesmos gostos, nem me acho ou acharei melhor do que outros por optar por este ou aquele programa em detrimento de outros, mas parece-me que os temas que são absolutamente decisivos para o nosso futuro próximo estão a ser postos em terceiro plano, ou nem sequer estão a ser discutidos, para vivermos permanentemente “enfiados” na vida das outras pessoas – a maior parte delas que nem sequer têm nada para nos ensinar. Esta loucura com a detenção do ex-presidente do Sporting mas também os amores e desamores da dita cantora Maria Leal ou alguns programas de entretenimento que, pelos vistos, prendem as pessoas ao ecrã – e que segundo sei consistem em casar pessoas antes de elas se conhecerem – viram os nossos conceitos ao contrário. Neste último caso, então, é surreal: se pessoas que se conhecem há uma vida inteira dizem que a relação entre duas pessoas é a coisa mais difícil de conciliar, não será difícil prever o “ballet” que vai entre duas pessoas que se casaram “às cegas” .

Sabiam que o processo do Brexit que dita a saída do Reino Unido da União Europeia e que se apressa para o seu documento final está a ser discutido por estes dias? Fazem ideia da importância que isso terá no curto e médio prazo? Sabiam que o Ministro da Defesa de Israel Avigdor Lieberman se demitiu esta semana por estar em desacordo com o cessar fogo decretado para a Faixa de Gaza pelo Primeiro Ministro Netanyahu entre Israel e o movimento palestiniano Hamas e as repercussões que isso pode ter na agenda política social e económica Mundial ? É que eu para ouvir a notícia com alguma dignidade tive que ver o telejornal da Al Jazeera, porque cá continuamos a entrevistar o cão, o gato e a irmã do Bruno. Para as pessoas deixarem este “modus operandi” é importante que os veículos de comunicação sejam também eles sérios, estimulantes e deixem de se reger única e exclusivamente pela audiência do dia. Quanto a nós todos, é tempo de deixarmos de viver vidas que não são nossas, de acreditar em sorrisos que não são verdadeiros e de desejar paisagens cheias de “filtros”. É tempo de construirmos os nossos momentos e de nos influenciarmos pelos nossos próprios princípios e convicções. De nos interessarmos pelo que se passa à nossa volta sem deixarmos de estar com os nossos amigos e de contarmos histórias em vez de passarmos a vida agarrados ao telemóvel a acompanhar o que os outros fazem.

A caminho da superficialidade


Parece-me que os temas que são absolutamente decisivos para o nosso futuro próximo estão a ser postos em terceiro plano, ou nem sequer estão a ser discutidos


O bom de um regime democrático é que cada um pode em teoria fazer o que quiser desde que tenha possibilidades para isso, e que não interfira na liberdade e nos direitos dos outros. Não é por isso minha intenção dizer às pessoas o que devem ou não ver, ou que o que mais lhes convém deveria ser isto ou aquilo. Isso será, à partida, do domínio de cada um. Não deixo, no entanto, de registar com preocupação o caminho da superficialidade que a nossa comunicação social, (com ênfase na televisão) tem escolhido como conteúdo predominante. Como é que podem depois vir regatear o voto consciente do Povo e como é que se podem insurgir contra o apoio manifestado a crescentes movimentos radicais – e inclusive a aceitação de uma forma natural de líderes com tiques ditatoriais – se aquilo que escolhem para abertura dos jornais e para a sua programação (sobretudo no horário nobre) é, para além de uma valente porcaria, de um interesse absolutamente nulo?

Já se sabe que as pessoas “comem” o que lhes metem à frente, também é sabido que o jornalismo dito sensacionalista é mais procurado pelas pessoas. Acho que há espaço para tudo, agora irem todos “atrás da bola” é que acho ridículo, redundante e perigosamente inócuo. Quando os canais de informação escolhem passar a tarde inteira a passar as mesmas imagens de Bruno de Carvalho e do tal de Mustafá, sempre a dar as mesmas informações, a recolher depoimentos nas ruas de pessoas que nem sabem bem o que se está a passar e quando ainda têm o dislate de abrir os telejornais com o mesmo tema e estendem-se após o seu término fazendo extensos programas de debate com comentadores de “vão de escada” – alguns desempregados e políticos (sim esses vão a todas) – é passar todos os limites da racionalidade. E isso, no meu entender, pagar-se-á caro no futuro.

Nós não temos, obviamente, de ter os mesmos gostos, nem me acho ou acharei melhor do que outros por optar por este ou aquele programa em detrimento de outros, mas parece-me que os temas que são absolutamente decisivos para o nosso futuro próximo estão a ser postos em terceiro plano, ou nem sequer estão a ser discutidos, para vivermos permanentemente “enfiados” na vida das outras pessoas – a maior parte delas que nem sequer têm nada para nos ensinar. Esta loucura com a detenção do ex-presidente do Sporting mas também os amores e desamores da dita cantora Maria Leal ou alguns programas de entretenimento que, pelos vistos, prendem as pessoas ao ecrã – e que segundo sei consistem em casar pessoas antes de elas se conhecerem – viram os nossos conceitos ao contrário. Neste último caso, então, é surreal: se pessoas que se conhecem há uma vida inteira dizem que a relação entre duas pessoas é a coisa mais difícil de conciliar, não será difícil prever o “ballet” que vai entre duas pessoas que se casaram “às cegas” .

Sabiam que o processo do Brexit que dita a saída do Reino Unido da União Europeia e que se apressa para o seu documento final está a ser discutido por estes dias? Fazem ideia da importância que isso terá no curto e médio prazo? Sabiam que o Ministro da Defesa de Israel Avigdor Lieberman se demitiu esta semana por estar em desacordo com o cessar fogo decretado para a Faixa de Gaza pelo Primeiro Ministro Netanyahu entre Israel e o movimento palestiniano Hamas e as repercussões que isso pode ter na agenda política social e económica Mundial ? É que eu para ouvir a notícia com alguma dignidade tive que ver o telejornal da Al Jazeera, porque cá continuamos a entrevistar o cão, o gato e a irmã do Bruno. Para as pessoas deixarem este “modus operandi” é importante que os veículos de comunicação sejam também eles sérios, estimulantes e deixem de se reger única e exclusivamente pela audiência do dia. Quanto a nós todos, é tempo de deixarmos de viver vidas que não são nossas, de acreditar em sorrisos que não são verdadeiros e de desejar paisagens cheias de “filtros”. É tempo de construirmos os nossos momentos e de nos influenciarmos pelos nossos próprios princípios e convicções. De nos interessarmos pelo que se passa à nossa volta sem deixarmos de estar com os nossos amigos e de contarmos histórias em vez de passarmos a vida agarrados ao telemóvel a acompanhar o que os outros fazem.