O avião que ontem andou descontrolado nos céus de Lisboa tinha capacidade para 120 passageiros, mas só levava seis pessoas a bordo. O aparelho, da companhia do Cazaquistão Air Astana, estava realizar um voo de teste depois da ter feito manutenção em Alverca. Quando o piloto declarou mayday ainda pediu para amarar no rio Tejo por estar tudo fora de controlo, mas acabou por ser aconselhado a aterrar em segurança na Base Aérea de Beja.
Foi logo ao início da tarde que o avião da Embraer declarou emergência, minutos depois de ter descolado da pista de Alverca, onde tinha estado a fazer manutenção nas oficinas da OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, com destino a Minsk, capital da Bielorrússia.
O voo KZR 1388 seguia com seis pessoas a bordo quando foi confrontado com problemas técnicos e terá começado a fazer uma navegação errática e sem controlo aparente.
“O aparelho está incontrolável”, pode ouvir-se nas conversas entre os tripulantes e a torre de controlo. “Gostaríamos de aterrar no mar assim que possível”, continua o piloto, que depois de declarar mayday deixou claro que não conseguia controlar a trajetória nem a altitude do aparelho.
A preocupação aumentava a cada segundo e, após ter sido estudada a hipótese de amaragem no rio Tejo, que segundo vários especialistas seria muito arriscada – sobretudo dadas as condições meteorológicas que se fizeram sentir ontem na capital –, foi decidido que o mais seguro seria uma aterragem na Base Aérea de Beja. E o avião teve mesmo de ser escoltado por dois F-16 da Força Aérea Portuguesa, que terão demorado cerca de 18 minutos a chegar ao local.
“Quando se começou a ter algum controlo da aeronave foi a partir do momento em os
F-16 chegaram junto da aeronave. O piloto começou a ter mais capacidade de controlo e, atendendo às dimensões da pista, Beja foi uma opção”, disse o tenente-coronel Manuel Costa à agência Lusa.
Todo o percurso do avião
No site flightradar24 foi possível acompanhar a rota da aeronave, que estava a vermelho – em direção ao Alto Alentejo, sempre rumo a Beja, mas, às 15h07, junto à barragem do Alvito, o rasto desapareceu. Sabe-se ainda que, durante esta viagem, o avião terá perdido combustível de forma a garantir uma maior segurança na aterragem.
O avião conseguiu aterrar na base aérea apenas à terceira tentativa, uma vez que o piloto não conhecia o local e ainda teve de ser feito o devido reconhecimento.
Até agora, ainda não são conhecidas as causas que levaram a tripulação a declarar mayday, ou seja, estado de emergência, uma situação que está já a ser investigada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) . À Lusa, uma fonte aeronáutica terá afirmado que o avião teve “uma falha crítica nos sistemas de navegação e controlo de voo”.
Quanto a este tipo de voos de teste e aos incidentes que podem acontecer, o presidente da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), Miguel Silveira, disse ontem à_RTP que “a estatística diz que, quando isto acontece, na maioria das vezes é porque houve um erro humano dos atuantes”. E acrescentou: “Mas não se sabe se foi isto que aconteceu.”
Enquanto se decidia onde iria aterrar o avião, em terra foram montados dispositivos, um dos quais em Beja. Vítor Cabrita, comandante operacional distrital de Beja da Proteção Civil, disse ontem que, no entanto, a maioria dos meios – ambulâncias e carros de bombeiros – acabaram por não ser necessários. “As seis pessoas estavam bem, apresentavam quadros de ansiedade.” Apenas dois tripulantes foram transportados para o Hospital José Joaquim Fernandes.
As vítimas, um homem de 37 anos, natural do Cazaquistão, e um inglês de 54 anos, já tiveram alta – um estava com tensão alta e ansiedade e o outro foi visto no serviço de ortopedia, ambos no serviço de emergência.
Atrasos no aeroporto de Lisboa
Devido à situação de emergência, o aeroporto da capital registou atrasos nas descolagens, sobretudo quando a aeronave sobrevoava a capital, e alguns aviões chegaram mesmo a ser desviados para Faro.
Miguel Silveira disse, em declarações ao “Público”, não se recordar “nos tempos mais recentes de uma emergência tão grande na zona terminal do aeroporto de Lisboa” e pediu “maior responsabilidade em questões de segurança”.