Por mais que Rui Rio dê o caso José Silvano por encerrado, ele vai teimar em ressurgir. A verdade é que para quem apareceu como o homem que queria moralizar o partido, a política e até o país, o líder do PSD tem-se mostrado demasiado condescendente com as falhas de pessoas do seu círculo mais próximo.
A primeira delas foi Feliciano Barreiras Duarte, que se gabava no seu currículo de ser visiting scholar em Berkeley mas acabaria por reconhecer nunca ter posto os pés na universidade americana. Na altura Rio foi lacónico: “Fez referência a um aspeto do seu currículo que não era preciso e corrigiu”. O caso parecia estar arquivado, mas acabou por contribuir para a demissão de Barreiras Duarte do cargo de secretário-geral do PSD quando mais tarde se viu envolvido noutra trapalhada.
Por um azar dos Távoras, o homem que o substituiu, José Silvano, também está metido numa controvérsia que põe em causa a sua idoneidade. E, mais uma vez, Rio não percebeu – ou fez de conta que não percebeu – a gravidade do caso. Quando um terceiro marca a presença de um deputado (que recebe por isso) e se descobre que este esteve fora nesse dia é a credibilidade do deputado, se não mesmo do parlamento, que fica em xeque.
Ainda assim, o líder do PSD descartou o assunto como uma questão menor que seria até nociva, impedindo que se discutam coisas mais importantes para o país.
Ora, nem a seriedade dos deputados é uma questão menor, nem esta discussão impede seja o que for. Pior ainda: se não conseguimos sequer resolver os pequenos problemas, como poderemos atacar os grandes?
Rio apareceu com a ambição de limpar a casa no partido, higienizar a política e dar uma vassourada em certos hábitos instalados, mas até aqui aquilo que o temos visto fazer é varrer a poeira para debaixo do tapete. Ontem garantiu que não deixa cair os amigos. Os amigos podem pois ficar descansados. Quanto a nós, nem por isso.