Alemanha. Merkel não se recandidata à liderança da CDU

Alemanha. Merkel não se recandidata à liderança da CDU


A decisão surge depois de a CDU ter perdido 11% dos votos nas eleições legislativas de Hesse e de a CSU ter descido em 10% na Baviera, no início deste mês


A chanceler alemã Angela Merkel não se irá candidatar à liderança da CDU na próxima conferência do partido, no início de dezembro. Uma decisão que vem no seguimento das eleições regionais no estado de Hesse de ontem, com a CDU a obter a vitória, mas a perder 11% dos votos. Em 2013, a CSU recebeu 38,2% dos votos. 

É a segunda derrota de Merkel em eleições regionais deste ano. No início deste mês, a CSU, partido-irmão da CDU na Baviera e liderado pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, perdeu a maioria absoluta que detinha há décadas no estado. Alcançou os 37%, mas perdeu 10% dos votos em relação às eleições de 2013 – perda de votos similar ao das eleições de ontem em Hesse. 

"Os resultados eleitorais mostram que as pessoas esperam que a CDU se renove", disse o deputado conservador Matern von Marschall, citado pelo jornal alemão "Stuttgarter". "Precisamos de um programa significativo com um caminho claros e caras novas", acrescentou o também deputado conservador Christian von Steffen ao mesmo jornal. 

No entanto, avança a Reuters, há quem na cúpula do partido não veja o anúncio de Merkel como definitivo. "Isto deve ser discutido", disse um membro da direção da CDU à Reuters, referindo que deseja que a chanceler altere a sua posição. 

Em reação aos resultados, o líder da CSU e ministro presidente de Hesse, Volker Bouffier, afirmou que o seu partido alcançou o objetivo delineado: o de conseguir liderar o próximo executivo estadual, mas que "está em dor por causa da perda" eleitoral. "A mensagem aos partidos que governam em Berlim é: as pessoas querem menos disputas e mais convergência nos assuntos importantes", referiu. 

Se durante meses a chanceler foi pressionada pelo seu ministro do Interior para avançar com políticas mais duras face à imigração, arriscando a estabilidade da coligação, Merkel confronta-seagora com a crescente oposição – e pressão – dos seus parceiros de coligação sociais-democratas. Ontem, a líder do PSD, Andrea Nahles, fez um ultimato a Merkel para que esta avance com políticas que melhorem os resultados do governo. Caso contrário, os sociais-democratas terminarão com a coligação saída das eleições legislativas federais de 2017. 

Entretanto, Nahles vai avaliar o progresso da coligação governamental. "Poderemos então avaliar a implementação do roteiro na revisão, poderemos então decidir se este governo é o lugar certo para nós", disse a líder social-democrata aos jornalistas. "A situação do governo é inaceitável". O SPD decidiu entrar na coligação liderada por Merkel depois do seu então líder e candidato a chanceler, Martin Schultz, ter dito que o partido não iria participar num futuro governo CDU-CSU. 

Com a saída de Schultz, o partido entrou no executivo federal, depois de ter descido ainda mais nos votos – recebeu 20,5%, quando em 2013 obteve 25,7% . Neste sentido, a liderança social-democrata vê-se pressionada a apresentar resultados aos seus eleitores e a contrariar a tendência de queda de votos. Em consequência, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) tornou-se líder da oposição, destacando-se e tendo vantagens processuais no Bundestag, como responder em primeiro lugar ao governo. Com a subida do AfD, a CSU é eleitoralmente pressionada por todo o país, enquanto a CSU o é na Baviera. O SPD também tem perdido votos para o AfD, mas em menor intensidade que as forças de centro-direita. 

Há quem referia que a coligação de Merkel "perdeu a confiança do eleitorado", mas que não há alternativa neste momento. É a opinião do editor-chefe do semanário Die Zeit, Josef Joffe. "Um partido em queda não consegue subir de repente das cinzas ao ir para a oposição", escreveu em referência ao SPD. "Assim, os grandes partidos devem cerrar os dentes, permanecer na coligação e esperar por dias melhores". 

Merkel foi eleita presidente da CDU pela primeira vez em 2000 e desde esse ano que se mantém ininterruptamente no cargo. Ganhou as eleições federais de 2005 e tornou-se chanceler, renovando a sua posição nas eleições de 2009, 2013 e 2017. No entanto, se Merkel está disponível para abdicar do cargo partidário, a situação é bem diferente quanto ao cargo de chanceler da Alemanha. Merkel deseja cumprir o seu mandato até ao fim. 

Uma das possíveis futuras líderes da CDU é Annegret Kramp-Karrenbauer, protegida de Merkel. A conservadora foi promovida pela líder do partido a secretária-geral do partido em fevereiro de 2018, decisão considerada como claro sinal de que será a escolha de Merkel para se lhe suceder à frente da CDU.