Volvido algum tempo em que as relações entre Portugal e Angola não estiveram propriamente nos píncaros da afabilidade, aguardava- -se com algum e justificado interesse a deslocação de António Costa a este território africano, procurando-se dessa forma estabilizar a realidade existente, o que a acontecer, estou em crer, só beneficia os dois países. Não que isso possa também ser feito a qualquer custo mas, ainda assim, o interesse de sucesso é comum. Volvidas estas protocolares intenções, resta saber se, na prática, este encontro, bem como outros que parecem já estar agendados para breve, se traduzirão ou não nalguma coisa que se veja. Ouve-se falar em circunstâncias, algumas já há anos reivindicadas, como a eliminação da dupla tributação fiscal entre os dois países. Oxalá seja desta que tal venha efetivamente a acontecer. Assim sendo, pela importância desta como de outras medidas e, tal como se disse, pelo contexto recente que ambos os países viveram, tal representará uma vitória importante para o governo e para António Costa. Porém, não há dúvida nenhuma que, infelizmente, mais que tudo isto que se escreveu ou qualquer outra coisa que se pudesse ter escrito, a visita de António Costa, primeiro-ministro de um país deslocando-se a outro em representação do Estado, fica indubitavelmente marcada pela falta de classe e, é minha opinião, pela falta de respeito por Portugal e por Angola pela forma como se apresentou perante o ministro dos Negócios Estrangeiros angolano, Manuel Domingos Augusto. Terá o primeiro-ministro perdido a cabeça? Será que a bandalheira é tão grande que nem vale já a pena disfarçá-la? Ou será que é desta forma ridícula, repito, ridícula, que os políticos pensam que marcam a diferença? É que, tendo eu dificuldade em equacionar a primeira pergunta e, sobretudo, em aceitar a segunda, só posso ser levado a considerar a terceira. O grande problema é que a diferença que pensam marcar marcam-na, sim, mas pela mediocridade. Chega a ser confrangedor. Já não basta ter-se passado o verão a ver o Presidente da República em calções de banho que agora, na rentrée, surge o primeiro-ministro de calcinha de ganga e mocassins em visitas de Estado. O que se segue, meus senhores? Ferro Rodrigues, pelo turismo, vestido à minhota nas próximas festas de Viana? Começa a não haver palavras para adjetivar o ponto a que se chegou. E vou já antecipar a resposta a algumas questões que podem neste âmbito surgir. Não. Um/a político/a não é melhor ou pior, por si só, pela forma como se veste ou apresenta em público. Mas em tudo na vida há que saber estar de acordo com a importância do momento, das circunstâncias que se vivem, das funções que nelas representamos e das pessoas de que nos fazemos acompanhar. Isto não é vaidade. É pura e simplesmente bom senso.
Escreve à sexta-feira