Reformas. Carreiras acha discurso de Rio “bondoso” e utópico

Reformas. Carreiras acha discurso de Rio “bondoso” e utópico


Autarca de Cascais regista inversão no discurso do líder do PSD, mas lembra que é preciso concretizar propostas e que o PS não vai “querer aceitar” as ideias do partido


Falta um ano para as eleições legislativas e a direita e o centro-direita estão mais divididos do que nunca. O PSD assume-se cada vez mais ao centro, a líder do CDS reclama o seu lugar de protagonista da oposição de direita, enquanto Santana Lopes está a recolher as assinaturas para o novo partido, o Aliança, depois da desfiliação do PSD.

Ontem, Rui Rio fez um discurso em que não concretizou as suas propostas, mas apontou o dedo ao “autismo do governo” perante a degradação dos serviços públicos, ao problema do endividamento das famílias, além de pedir celeridade ao Ministério Público para dar respostas sobre o roubo de material bélico em Tancos. “Já lá vai tempo”, avisou Rio para a procuradora-geral da República. Convenceu os críticos?

Para o presidente da câmara de Cascais, Carlos Carreiras, “Rui Rio não apresentou ainda grandes ideias ao país, a não ser a necessidade de efetuar reformas”. Apesar de reconhecer “a inversão” de discurso do líder que deixou para trás os ataques aos críticos internos, o autarca, que dirige a maior câmara nas mãos do PSD, sublinhou que existem riscos na estratégia de Rio. Primeiro, “é preciso concretizar que reformas quer fazer”. Segundo, “é muito bondoso acreditar que o PS e o governo, alguma vez, vão querer aceitá-las (…) É muito bondoso ele acreditar que alguma vez o PS irá ao encontro dessa sua perceção e das suas propostas”, advertiu Carlos Carreiras, em declarações ao i. Para o antigo dirigente do PSD é preciso dizer que o modelo de reformas que os sociais-democratas defendem é completamente incompatível com o que está a ser seguido pelo governo com a base de apoio que tem”, à esquerda, com valores baseados “em Lenine” ou em “Marx”.

Já um dos elementos da equipa de Rui Rio no conselho estratégico nacional do partido, Ângelo Correia elogia o seu estilo: “Achei um discurso sério, rigoroso, não demagógico. Achei o discurso responsabilizante. E são virtudes que nos dias de hoje não são muito praticadas”.

Gestor e moralizador Em Castelo de Vide, Rio assumiu o papel de “gestor responsável”, considerou ao i o politólogo António Costa Pinto.

Em sua opinião, Assunção Cristas “tem um discurso de continuidade”, na tentativa de “ protagonizar a oposição de direita”, o que “é natural”.

Do lado do PSD, para o politólogo, Rui Rio surgiu com “um discurso muito moralizador da vida política”. Mais, na análise ao registo de Rio, António Costa Pinto considerou que o líder do PSD assumiu a sua missão de “ chefe do principal partido da oposição, que quer fazer reformas estruturais e o PS vai precisar dele”.

Por essa via , “não é um discurso de grande mobilização do centro direita numa conjuntura que é difícil para o centro-direita”, avalia Costa Pinto, acrescentando que a perceção que fica é a de que o líder do PSD ficou “mais preocupado” em fazer um discurso de “reafirmação interna”. Quanto ao CDS, Costa Pinto lembrou que o CDS “nunca capitalizou muito as crises no PSD”. Já o novo partido de Santana Lopes “provocará sempre algum dano ao PSD”, pelo protagonismo do seu fundador e da ligação ao PSD.