Oito anos, 3 resgates, um perdão parcial da dívida e mais de 300 mil milhões de euros de empréstimos depois, a Grécia recuperou a sua soberania económica. Foi um caminho cheio de espinhos e no qual foram destruídos milhares de postos de trabalho, encerradas muitas empresas e em que muitos cidadãos de todas as idades viram as suas vidas e os seus sonhos destruídos.
Todos sabemos como tudo começou. Uma crise na regulação financeira nos Estados Unidos da América gerou brutais ondas de choque na União Europeia (UE), onde a falta de solidariedade e de lucidez na reação amplificou os danos para as economias com estruturas mais débeis.
No momento em que a Grécia regressou a um patamar frágil, mas soberano de estabilidade, conseguido através de um esforço hercúleo do povo grego e do trabalho articulado entre o governo de Tsipras e o Eurogrupo liderado por Mário Centeno, é tempo de recordar o sofrimento e o empobrecimento que as políticas de austeridade lideradas pela Troika impuseram à nação helénica, como antes tinham imposto direta ou indiretamente a muitos outras nações, de que Portugal foi um exemplo.
Sem apagar o passado e as lições que dele temos que extrair, incluindo os erros de avaliação de vários governos e das instituições europeias, é determinante valorizar agora outro ângulo no regresso da Grécia a uma situação de soberania económica e política plena.
As relações de forças nas instituições europeias são periclitantes, volúveis, cada vez mais imprevisíveis. Ter no Conselho Europeu mais uma voz de pleno direito a defender uma visão de convergência, sensibilidade social, ambição global, crescimento sustentável e emprego é importante.
A seguir à revolução dos cravos e para defender Portugal das tentações totalitárias, Mário Soares e o Partido Socialista popularizaram o “slogan” a “Europa Connosco”. Nessa altura, a solidariedade ativa das democracias europeias ajudou Portugal a consolidar-se como uma democracia ocidental forte e pluralista.
Com o final da intervenção externa, temos agora a “Grécia Connosco” para apoiar com voz plena uma linha progressista para o futuro da Zona Euro, incluindo a conclusão da sua arquitetura, o aumento dos recursos próprios e a consolidação dos programas de coesão e de convergência. Esta é uma boa notícia para o povo Grego, mas é também uma boa notícia para os outros povos da Europa que lutam contra o populismo, o nacionalismo e o radicalismo antieuropeu.
Seria útil a muita gente manter a Grécia refém da “Troika”. Essa situação de constrangimento constituía uma poderosa alavanca política para os radicais antieuropeus. Felizmente já não têm esse trunfo.
Consumado o resgate da Grécia, temos que aproveitar o momento para aprofundar as parcerias de combate político ativo aos populismos, aos radicalismos, aos nacionalismos e às agendas políticas neoliberais destituídas de sensibilidade social e afastadas do ideal europeu.
O passado, que é sempre um determinante repositório de conhecimento, tem que ser também inspirador, pelo que correu mal e por aquilo que foi possível corrigir, das reformas que a UE necessita, para que tragédias económicas e sociais como a que sucedeu na Grécia não se repitam.
Eurodeputado