Roubam milhares de passwords, contas de e-mail, dados de hospitais, ministérios ou tribunais. Conhecidos como hackers, ou piratas, orquestram todos os crimes atrás de um ecrã, conseguindo aceder a informação confidencial sem deixar rasto. A ocorrência deste tipo de crimes, cibercrimes – crimes baseados em ataques informáticos, com recurso a tecnologia –, está a aumentar. A garantia foi dada ao i por Carlos Cabreiro, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T).
“É evidente que têm aumentado”, uma vez que os portugueses também utilizam cada vez mais a internet, explicou. “Portugal tem um índice elevado de utilizadores da internet, daí que também as coisas malévolas e criminosas que possam ser praticadas” virtualmente também tenham sofrido um aumento, completou.
Só este ano, a unidade da Polícia Judiciária (PJ) que se dedica a este tipo de crimes já registou 184 inquéritos de sabotagem informática, 62 situações relacionadas com ransomware (isto é, que utiliza softwares maliciosos) e estão sob investigação 1600 inquéritos.
Quanto a burlas informáticas, a Polícia de Segurança Pública (PSP), até meados de agosto deste ano, tinha registado 2.362 denúncias.
A tendência para este aumento parece estar para continuar.
Relativamente ao ano passado, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, foi registado um aumento generalizado deste tipo de crimes: em 2017, registaram-se mais de 175 casos do que em 2016, representando um crescimento de 21,8%.
Segundo aquele responsável, este crescimento da criminalidade deve-se, em parte, às redes sociais: “As redes sociais vieram potenciar” estes crimes, porque, “além de potenciar a comunicação entre as pessoas, veio abrir uma porta para eventuais ataques maliciosos”, levando a um aumento da “prática do crime”.
Mas Carlos Cabreiro assegurou que a PJ está preparada para combater o cibercrime: “Já há bastante tempo que a PJ tem uma equipa especializada na investigação deste tipo de criminalidade e tem vindo a acompanhar todas as situações, quer através do Centro Nacional de Cibersegurança, com quem tem relações estreitas, quer também em cooperação internacional, nomeadamente com a Europol”.
Mais e maiores Ataques informáticos
No ano passado, um ciberataque atingiu de 100 países, com recurso a um vírus – que bloqueou os ficheiros e que pedia um resgate pago em bitcoins – que se espalhou através de uma falha no sistema operativo Windows. Esta falha tinha sido corrigida em março de 2017, através de uma atualização. No entanto, os utilizadores que ainda não tinham atualizado o sofware estavam vulneráveis à entrada do vírus. E os piratas não perdoaram.
“O ataque recente é de nível sem precedentes e vai exigir uma investigação internacional complexa para identificar os culpados”, referiu a Europol na altura.
O vírus também chegou a Portugal: na altura, a PT alertou os seus utilizadores para a presença de um vírus perigoso que andava a circular online. Como prevenção, algumas empresas portuguesas, como a EDP, decidiram tomar medidas preventivas, desligando as suas redes e contas de e-mail.
Também na altura, no Reino Unido registaram-se problemas informáticos em hospitais e em Espanha a multinacional de telecomunicações Telefónica teve de desligar os computadores da sua sede, após ter sido detetado o vírus, que bloqueou alguns equipamentos.
Já este ano, o mais recente ataque registado em Portugal foi num hospital do grupo CUF. No início deste mês, a unidade hospitalar foi alvo de um ataque informático com recurso a um vírus, chamado de SamSam e que é conhecido por bloquear todos os dados presentes no computador, pedindo um resgate – normalmente em bitcoin – para que os ficheiros fossem libertados. Na altura, a PJ iniciou uma investigação para tentar chegar ao autor ou autores do crime.
Medidas de prevenção Carlos Cabreiro disse ao i que a melhor estratégia para as pessoas se protegerem deste tipo de crimes é “adaptar a segurança que temos na vida real à vida virtual”.
O responsável fala também sobre a proteção de dados e a privacidade: dois pontos cruciais para se proteger online, sendo que, para isso, nunca deve divulgar os seus dados pessoais online. Esta ideia de segurança deve ser incutida tanto a nível familiar como a nível das empresas, adiantou o responsável.
Devem também ser tidas em conta ainda algumas questões técnicas, como as passwords – que, segundo Carlos Cabreiro, devem ser “robustas” – e apostar “em softwares legítimos”, que garantam segurança.
Quanto às burlas informáticas, a PSP revelou ao i que as pessoas devem evitar fazer “qualquer tipo de transferência de dinheiro para pessoas que anunciam” arrendamentos ou vendas online, sem conhecer a legitimidade do anunciante, deve ler “comentários e avaliações associadas ao anúncio” e guardar “todas as trocas de e-mails, fotos e mensagens”, caso esteja a comprar ou arrendar algum artigo, como comprovativo da compra.