Lisboa. Cemitério medieval descoberto entre o Martim Moniz e a rua da Madalena

Lisboa. Cemitério medieval descoberto entre o Martim Moniz e a rua da Madalena


Pelo menos 20 corpos enterrados na Idade Média foram encontrados por uma equipa de arqueólogos, e o grupo acredita que “irão aparecer mais”


Datada entre “o século XIV, inícios do XV”, foi descoberta uma necrópole medieval na zona que liga a rua Martim Moniz à rua da Madalena, na freguesia de Santa Maria Maior. O achado fez-se há precisamente um mês por uma equipa de sete arqueólogos responsável pelo registo e diagnóstico arqueológico das áreas antes da instalação dos ecopontos.

“Até ao momento já temos 20 [corpos identificados], mas, possivelmente, ainda irão aparecer mais, porque só temos o primeiro nível de sepulturas a descoberto”, referiu a arqueóloga e coordenadora do projeto de instalação de ecopontos da Câmara Municipal de Lisboa, Vanessa Filipe, citada pela agência Lusa. “Por baixo, temos quase a certeza de que temos mais cinco [corpos]”, vincou, acrescentando que os trabalhos arqueológicos deverão demorar “pelo menos mais duas semanas”.

Vanessa Filipe referiu ainda que a necrópole é “totalmente cristã”, uma vez que todos os corpos foram enterrados com “a cabeça para oeste e os pés para este, para quando se levantarem irem em direção a nascente”, acrescentando que há outros cemitérios semelhantes em Lisboa. Outra das conclusões a que o grupo chegou é que este cemitério estaria associado a uma ermida “que pertenceria aos marqueses de Cascais” e que “o adro da igreja estaria virado” para o lado onde estão sepultados os corpos.

A responsável lembrou que os corpos não podem ser retirados da sepultura depois de encontrados, trabalho que cabe a uma antropóloga, que irá registar também “todas as patologias associadas” aos corpos. A antropóloga Sónia Ferro informou, entretanto, que a necrópole “estende-se para o exterior da vedação” e que a equipa a cargo desta exploração está limitada à “parte afetada” para a construção dos ecopontos.

“Dos enterramentos levantados, metade são homens, metade são mulheres, todos adultos, exceto uma criança”, afirmou a antropóloga, acrescentando que o corpo da criança “é o único enterramento com evidência de alguma patologia mais grave”. “Tinha uma infeção nos ossos todos”, o que “poderá ser compatível com uma tuberculose”, e os restantes corpos apresentam “marcas normais de envelhecimento”, adiantou Sónia Ferro.

A investigadora explicou que “à partida [os corpos] serão de gente do povo, com menos meios, porque estavam enterrados só em terra”. E disse ainda que “só um indivíduo é que tinha uma moeda na mão, que era normal em termos medievais, às vezes para pagar a viagem para o outro lado”. O arqueólogo Vasco Vieira concorda que era “um cemitério para o bairro”, e conta que o elemento mais curioso com que se depararam ao examinar os corpos se prende com um que tinha “pedras encaixadas dentro da boca”, acreditando a equipa que “foram enfiadas” na altura do enterro.