Quando se pensa num estadista pensa-se automaticamente num ser humano que, por sê-lo, representa um território do mundo e, no mundo, de uma forma que, naturalmente, ainda que possa não agradar ao seu povo na totalidade, consegue pelo menos fazê-lo sentir que representa o que o cidadão comum dificilmente consegue representar. Um garante de estabilidade nacional, um vetor de seriedade e admiração na sua sociedade, enfim, uma “peça chave” na sua engrenagem nacional. Um estadista talvez deva ser, por isso – em minha opinião, claro está –, alguém que fale pouco e que, quando o faz, fá-lo assertiva e produtivamente nos interesses do seu território. Se a esta particularidade acrescentarmos que há territórios no mundo que, pela sua importância geoestratégica, quando falam, não falam só pelo seu território, mas por todo o equilíbrio mundial, mais clara fica a importância de existir uma pessoa com estas capacidades. Na passada segunda-feira, em Helsínquia, aconteceu aquela que foi a primeira cimeira formal entre Trump e Putin e, muito curiosamente, o único estadista presente foi o segundo. O que é preocupante! E não se constata esta realidade por qualquer especial apreço ao visado, mas, de facto, foi assustador ver o que se passou em Helsínquia. A dada altura disse Trump, e cita-se: “Estou aqui hoje para começar uma orgulhosa tradição da corajosa diplomacia americana.” É difícil compreender a profundidade destas palavras. Na realidade, aquilo que o presidente americano conseguiu com a sua postura não foi uma corajosa diplomacia, mas antes, como se costuma dizer, rebaixar-se.
O problema de quem se rebaixa é, também como se costuma dizer, que quanto mais uma pessoa se rebaixa, mais o dito cujo aparece. Trump está definitiva e perigosamente a colocar os EUA de cócoras e, com isso, arrastará todo o mundo como o conhecemos para uma qualquer realidade paralela ainda pouco compreendida. Ao que parece, veja-se bem, no entendimento do próprio, é a Europa um dos principais inimigos dos EUA. Quererá Trump agora, juntamente com Putin, fundar uma nova ordem internacional? Preocupante. Muito preocupante.
Escreve à sexta-feira