Jorge Andrade. “Em 2006 vivi a melhor experiência desportiva da minha vida!”

Jorge Andrade. “Em 2006 vivi a melhor experiência desportiva da minha vida!”


O desperdício da grande geração de 2002; o selecionador que não queria que soubessem o resultado dos adversários na carga de nervos contra a Coreia; saudades de Eusébio e Carlos Silva


Jorge Andrade foi um daqueles grandes jogadores portugueses marcados pela infelicidade das lesões. Jogou no Mundial de 2002, e pouco, foi titular no Europeu de 2004 e voltaria a sê-lo na Alemanha, em 2006, se o joelho não o tivesse traído barbaramente.

 Acabaste por só jogar um Mundial, no qual, ainda por cima, tudo correu mal – consegues hoje explicar porquê?
Com franqueza, respondo assim: nessa geração existia tanto talento que quando a equipa estava equilibrada ganhava a qualquer um. Mas, quando se desorganizava, podia perder com seleções como a Coreia ou os Estados Unidos. A liderança hesitava sobre a quem dar protagonismo, o que confundia os papéis dos jogadores.

Foi uma frustração?!
Que queres que te diga? Ter a geração de ouro de Portugal incapaz de passar uma fase de grupos de um Mundial, frente àqueles adversários, faz com que tenha sido uma frustração.

Jogaste pouco e sempre fora do teu lugar. O selecionador explicou-te porquê?
Amigo, aquela altura eu não tinha moral para que o selecionador me justificasse o que quer que fosse, o que fez com que o jogar pouco fosse natural. Em primeiro lugar, estava a começar a minha carreira na seleção; em segundo, tínhamos uma dupla de centrais, Jorge Costa e Fernando Couto, que estando bem jogaria sempre.

Mas que raio de pilha de nervos havia na equipa toda durante aquele maldito jogo contra a Coreia ?
Várias razões se juntaram. Os nervos explodiram pelo facto de nunca ter existido um mínimo de tranquilidade durante todo o Mundial. Sobretudo na comunicação entre a direção e o resto da seleção, incluindo treinadores. O jogo frente à Coreia foi tão-só o culminar dessa falta de comunicação. 

Vocês, dentro de campo, sabiam que bastava o empate para garantirem o apuramento?
Todos ficámos com a ideia de que o empate bastaria. Mas também é verdade que, no princípio, o selecionador não queria que soubéssemos o resultado do outro jogo, entre a Polónia e os Estados Unidos. Ele era de opinião que iria desconcentrar os jogadores. E deu indicações para que não nos comunicassem isso para dentro de campo.

Que aprendeste com esse Mundial?
Muito. Aprende-se sempre em situações de insucesso como aquela. Sobretudo com o desperdício de uma equipa de tanta qualidade.

Em 2006 estiveste connosco, lá na seleção, numa situação especial. Fala–me disso.Olha, ao contrário do Luís Figo, que só fez os dois últimos jogos de apuramento para essa fase final, eu fiz os 12 completos e ia perder a competição, por via de uma lesão grave. Parti a rótula. Perante este cenário, o Luiz Felipe Scolari falou comigo e confirmou-me que eu iria ao Mundial mesmo não jogando. Ao início, parecia uma situação estranha, acho que para toda a gente. Mas foi a melhor experiência que tive a nível desportivo. Viver a competição por dentro e poder saborear todos os momentos foi impagável. Quando jogamos não apreciamos os detalhes. Estar de fora fez-me sentir um privilegiado ao ver a forma como a nossa seleção chegou a um fantástico quarto lugar – a segunda melhor classificação de sempre depois de 1966. Foi absolutamente maravilhoso.

Com que memórias ficaste?
Olha, com o orgulho de festejar as vitórias com todo o staff, no qual se incluíam duas pessoas que nenhum de nós deve esquecer: o grande Eusébio e o sr. Carlos Silva. Pessoas maravilhosas aquelas, que transmitiam paz e davam a bênção aos jogadores antes de cada jogo.

Como era o ambiente de 2006 comparado com o de 2002?
Direi isto: em 2006 tínhamos um ambiente de união de grupo extraordinário e um forte espírito competitivo sempre presente. Depois da final do Europeu em 2004, todos queríamos continuar a fazer história com a seleção nacional. E fizemos!

Que opinião tens desta seleção de hoje?
Tem a base da seleção campeã europeia e todo o apoio do povo, o que faz com que jogar bem ou mal não seja relevante, mas sim a vitória… Sou um mais a apoiar!!! [A seleção] não é só o Ronaldo, mas beneficia de um Ronaldo que vai deixando a sua marca em todos os mundiais e grandes competições. É grande!