Quando fico a saber que vai realizar-se um qualquer congresso partidário, não consigo ficar indiferente a um sentimento quase automático que me invade e que me leva a pensar de antemão que nele nada mais acontecerá que a venda da banha da cobra. Já os congressos do PS que, rapidamente, se transformam em megacomícios, a par de confirmarem esta mesma previsibilidade, têm sempre o condão de nos presentear com momentos de puro deleite humorístico. Perdoar-me-ão todos os socialistas ofendidos com as alegadas condutas de Sócrates mas, passados anos, ainda me dá vontade de rir a entrada que o próprio fazia nos congressos da sua malfadada era, ao ritmo do soundtrack do filme “Gladiador”. Aliás, da mesma forma que isto ainda me faz rir, de rir foi igualmente o forte aplauso que este congresso a dada altura lhe dirigiu.
Enfim! É a coerência do PS ou, pelo menos, deste PS. Mas volvido este momento de gala, devem ainda destacar-se duas particularidades. A primeira, para genuinamente elogiar a coragem das intervenções de Francisco Assis e Ana Gomes. De facto, é preciso ter coragem para, no meio de um oceano de meros figurantes, que foi aquilo em que os congressistas socialistas se tornaram, estas duas almas saltarem para o palanque e dizerem umas quantas verdades. De tal modo que Carlos César, visivelmente incomodado, lá tentou calar Assis com a desculpa do tempo utilizado, mas este, como seria de esperar, fácil e rapidamente o encostou às cordas. Mais uma vez, foi de gargalhadear e à grande! Só é pena que atualmente pareça haver poucos socialistas com esta capacidade e que os que há sejam rapidamente “exilados” em Bruxelas. Pudera, quanto mais longe, menos incomodam. Ainda assim, permitam-me, deixei o melhor para o fim. Quer dizer, não é bem o melhor. Talvez seja apenas o mais burlesco. Quem foi o ator principal? Ora, quem mais poderia ser? O cicerone António Costa, pois claro! Ouvir Costa neste congresso foi quase a mesma coisa que estar a ouvir alguém contar uma daquelas histórias para crianças que começam sempre com “era uma vez” e acabam com o “viveram felizes para sempre”. Desculpem-me o vernáculo, mas que grande chachada. É que a dada altura deu a sensação de que Portugal era literalmente o país das maravilhas. Parecia um país em que os impostos que pagamos não são dos maiores da Europa. Parecia um país em que os combustíveis não param de subir. Parecia um país em que o SNS não se encontra a braços com uma das suas maiores crises. Parecia um país em que os jovens, a quem Costa se dirigiu especialmente, não se encontram em extremas dificuldades para terem uma vida digna. Realmente, parecia que em Portugal tudo são rosas. De tal forma que, ainda estando por descobrir quem é o D. Dinis deste governo, sei que certamente António Costa estará possuído pela rainha Santa Isabel. Por último, e a confirmarem-se algumas informações que passaram nas televisões, apenas perguntar: então no meio de um congresso, ao que parece, estavam representantes da Endesa e da China Three Gorges?! Ai Costa, a vida “costa”!!!
Escreve à sexta-feira