25 de Abril de faz-de-conta


Veja-se o exemplo da questão dos subsídios reembolsados a alguns deputados sem que, na verdade, esses tenham pago qualquer quantia em viagens


Quarenta e quatro anos passaram sobre a data da revolução de 25 de Abril de 1974. E pese embora a data tenha sido comemorada, como de resto sempre acontece, com toda a pompa e circunstância, a verdade é que o regime se encontra desgastado na sua estrutura, obsoleto na sua capacidade de atuação e ineficaz na resposta a muitas das exigências que a sociedade atual hoje lhe coloca. De resto, não fosse Portugal um país de brandos costumes e, certamente, o índice de censura que o povo poderia fazer sobre os exercícios de representatividade e governação seria bem distinto do que se verifica.

Se todos pensarmos bem, ser hoje político ou governante não tem o élan de outros tempos e, nessa medida, há que redinamizar, refundar, se quiserem, o sistema político português. Atentemos nalgumas circunstâncias que urge serem alteradas a bem da revalorização do mesmo, sendo a primeira o número de deputados do nosso parlamento, 230. Como diz a velha máxima, quantidade nem sempre é sinónimo de qualidade, e o número de deputados que hoje representam a nação é manifestamente excessivo pois, excetuando a linha da frente partidária, certamente a maior parte dos portugueses podem passar por alguns deputados da nação na rua que, simplesmente, não sabem quem são.

Outros haverá que, na prática, nem se lembram que são deputados porque, ao abrigo de um simpático regime de faltas, poucas são as vezes que vão às sessões parlamentares e menos ainda aquelas em que abrem a boca para dar um qualquer contributo para o país. Seria, portanto, benéfico, que esta tal modernização do regime passasse, em primeiro lugar, por uma redução parlamentar, contribuindo a curto-médio prazo essa realidade para a dignificação das funções em causa. Diz-se isto porque, quando se olha para o parlamento, olha-se para uma sala cheia de hábitos, alguns deles maus, de inércia, de acomodação, de egos, de privilégios.

Dizia quem contribuiu para o 25 de Abril que um dos males do antigo regime era a intocabilidade dos políticos e que estes tudo faziam a seu bel-prazer. Mente quem disser que no atual regime alguma coisa mudou. O que apenas mudou foi que os políticos do antigo regime assumiam como sendo normal essa posição, enquanto os políticos de hoje fazem o mesmo, mas mentindo descaradamente às populações, num exercício barato de falsidade intelectual. Veja-se o exemplo da questão dos subsídios reembolsados a alguns deputados sem que, na verdade, esses tenham pago qualquer quantia em viagens. Pergunto- -me: comemorando-se o 25 de Abril, não será uma conduta destas fascismo? Fica a questão. Fica a questão e é hora de mudar. Em 2018 há ainda no nosso parlamento muitos deputados que combateram ferozmente Oliveira Salazar e Marcello Caetano. E como a idade passa mas a memória permanece, se tudo se mantiver como está, um dia destes, a título póstumo, ainda terão estes de lhes pedir desculpa por acharem hoje normal aquilo que neles achavam serem condutas puramente abusivas e antidemocráticas.

Escreve à sexta-feira