Morabeza


Há vida em Cabo Verde. Há conversa,há gargalhadas constantes, há amor


Escrevo-vos a partir de Cabo Verde. Aqui, apesar de o tempo ser mais bem aproveitado, de os dias serem maiores e de o stresse, comparativamente ao nosso, ser menor, tenho o tempo todo contado. Há tudo para apreender, reter, e tantas coisas para fazer que não existe tempo morto. Cada pausa é usada para alguma coisa. Depois deste texto vou a correr para o Cinema-Praia (o cinema da capital de Cabo Verde) para mais uma Palestra Cancro com Humor!

Cheguei no dia 24 de março e a primeira coisa que aprendi ao colocar os pezinhos em Cabo Verde foi não só uma palavra nova, mas uma nova forma de estar: morabeza – qualidade de quem é gentil, amável, delicado. Qualidade intrinsecamente cabo-verdiana de quem recebe com alma, com vontade, com verdade. Esta é a primeira coisa a sentir.

É inacreditável como os cabo- -verdianos recebem as pessoas. Apesar de já desconfiar que me sentiria muito bem cá, nunca imaginei que, em poucas horas, os conhecidos se transformassem em amigos, e um país novo numa casa (mesmo que por pouco tempo). Ninguém sai de casa sem um sorriso, ninguém se esquece do “bom dia”. E foi assim, recebida literalmente de braços abertos, que iniciei esta aventura pelo continente africano.

A convite da Associação Cabo–Verdiana de Luta Contra o Cancro e com o apoio de várias entidades de cá, como a câmara e o Hotel Pescador (entre outros), e a força e vontade de tantos amigos (como a maravilhosa cantora Teté Alhinho), decidimos criar um plano de várias palestras pelas ilhas de Cabo Verde. A ideia? Trazer ainda mais humor, alegria, força, e uma nova perspetiva sobre o cancro. Começámos por ir às escolas e, logo ali, fiquei impressionada. Digo isto sem qualquer pudor – nunca estive com jovens tão bem-educados e participativos como em Cabo Verde. Os miúdos têm um respeito pelos professores e uma gratidão pelas atividades e pelo que lhes é proporcionado que deveria ser um exemplo para nós. Nas ruas, as cabras atravessam-se à frente dos carros e os cães andam soltos sem coleiras, e as pessoas vendem os seus produtos enquanto a música (que nunca falta!) enche qualquer rua, qualquer espaço, qualquer corpo.

Há vida em Cabo Verde. Há conversa, há gargalhadas constantes, há amor, há uma conexão superior. As palestras, aqui, são intensas. As pessoas vulnerabilizam- -se, sentem, comunicam. Aprendi tanto na palestra com o comité olímpico como na partilha intimista feita no Hotel Pescador, e aqui quem manda é o coração. Por isso é que, apesar da correria, tem sido tão bom contar a minha história em Cabo Verde – mesmo que ela tenha acontecido a quilómetros de distância, talvez nunca a tenha sentido tão perto.

 

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