Portugal. Semana após semana, o cenário repete-se: Jonas marca um, marca dois, às vezes até chega aos três. Brasil. Convocatória após convocatória, o cenário repete-se: Jonas fora das opções de Tite. O Pistolas – e os adeptos que apreciam bom futebol – vão tentando dourar a pílula, dizendo para si mesmos que ainda haverá mais oportunidades; o problema é que, a partir de agora… não haverá. Esta segunda-feira, o selecionador canarinho fez a última convocatória antes da apresentação da lista final, para jogos particulares diante de Alemanha, no próximo dia 23, e Rússia, a 27, e Jonas voltou a ser esquecido.
Isto apesar da frieza dos números, que o colocam como o maior goleador de todos os campeonatos europeus: 31 golos, bem à frente de consagrados como Gomis (Galatasaray), com 25; Immobile (Lazio), Cavani (PSG), Messi (Barcelona), Kane (Tottenham), Salah (Liverpool), todos com 24; Lewandowski (Bayern), com 23; Bas Dost (Sporting), com 22; Aguero (Manchester City) e Suárez (Barcelona), com 21; ou Marega (FC Porto)… e o compatriota Neymar (PSG), que tem 20. Não fosse o facto de os golos na Liga portuguesa valerem menos que os das ligas inglesa, espanhola, italiana, alemã e francesa (1,5 contra 2 de coeficiente), Jonas estaria a liderar a corrida pela Bota de Ouro; assim, é “apenas” sexto.
quatro (ou cinco) à frente Há poucas semanas, o avançado que vai maravilhando nos relvados portugueses desde setembro de 2014 assumia sem complexos: se não fosse desta, não era mais. “Disputar o Mundial é um objetivo meu. Temos agora estes dois jogos de preparação e a única esperança é essa, porque depois acho difícil ir ao Mundial sem ser testado. A única esperança seria a próxima convocatória. Nunca fui convocado na era Tite, mas o facto de ele referir que se um jogador estiver a alto nível o pode levar à seleção… Vejo muito esse caminho, passa pela minha cabeça, porque o meu momento no Benfica faz-me pensar na seleção”, dizia Jonas em entrevista ao “Esporte Interativo”.
Na mesma ocasião, explicava o que considerava ser uma mais-valia sua em relação à concorrência. “No futebol moderno, os treinadores gostam de jogadores que fazem várias funções. Tenho jogado agora a ponta-de-lança e fiz quase toda a carreira como segundo avançado, e isso é um ponto positivo”, salientava. Pois bem: Tite não pensou da mesma forma.
O técnico de 56 anos, à frente dos destinos do escrete desde junho de 2016, optou por chamar os avançados Roberto Firmino (Liverpool), Gabriel Jesus (Manchester City) e Willian José (Real Sociedad), estreante e a grande surpresa de um lote desfalcado pela ausência do lesionado Neymar. Na hora de explicar a sua opção, o ex-timoneiro do Corinthians justificou-se com as “duas grandes temporadas” do avançado de 26 anos na Liga espanhola: fez 14 golos em 2016/17 e soma agora 17. “Se tivesse mais tempo para trabalhar, tinha dado oportunidades a uma série de outros jogadores. Por cada um que eu escolha haverá sempre outro que poderia ter tido uma oportunidade. É o caso do Jonas. Os meus critérios? A Liga espanhola, as duas grandes temporadas do Willian José e o seu crescimento. Mas posso dizer que, por vezes, a diferença para tomar uma decisão é ténue”, ressalvou Tite.
Talisca em estreia e Geromel de volta Willian José, para os mais desatentos, chegou à Europa em 2013 para representar o… Real Madrid. A equipa B dos merengues, mais propriamente: fez 16 jogos e quatro golos pelo conjunto secundário dos madrilenos, cumprindo um encontro pela formação principal. Fez depois duas épocas razoáveis no Zaragoza e no Las Palmas antes de assinar pela Real Sociedad, e merece agora os maiores elogios do selecionador brasileiro.
“É um pivô, mas tem mobilidade. É alto, mas movimenta-se e cabeceia muito. Tem números bons em campeonatos importantes. Se encontras uma linha de cinco, com uma de quatro à frente, em alguns momentos, com um balanço da bola podemos infiltrar-nos pelo lado para criarmos cruzamentos, e nessa altura precisamos ter um grande cabeceador, com presença na área. Willian José ou Jô oferecem isso”, explicou Tite, avançado assim com mais um nome para a luta: Jô, que esteve presente no último Mundial, precisamente no Brasil, e joga agora nos japoneses do Nagoya Grampus, depois de ter sido peça essencial no título conquistado pelo Corinthians em 2017 – marcou 18 golos e foi coartilheiro do Brasileirão.
Há ainda outro estreante na lista de Tite para o duplo confronto com alemães e russos: Anderson Talisca. O médio de 24 anos, que ainda pertence aos quadros do Benfica, tem vindo a brilhar no Besiktas (17 golos na última temporada e 15 nesta) e mereceu pela primeira vez a chamada do selecionador. “Tem finalização de meia distância, bola aérea, imposição física que pode emprestar virtude contra defesas com linhas de cinco ou quatro. O objetivo é ter opções, jogadores de características diferentes”, explicou o técnico canarinho, que mantém a confiança em Ederson (ex-Benfica e hoje titular no super-Manchester City de Pep Guardiola) e Casemiro (ex-FC Porto), e voltou a chamar, mais de um ano depois, Geromel. Esse mesmo: o antigo central de Chaves e Vitória de Guimarães, que aos 32 anos é o patrão da defesa do Grémio.