O Ministério da Reunificação sul-coreano anunciou ontem que, pela primeira vez desde o cessar-fogo e divisão da península coreana, em 1953, um elemento da dinastia Kim ultrapassará o Paralelo 38 e visitará o vizinho e inimigo do Sul. Kim Yo-jong, a irmã mais nova do líder norte-coreano, Kim Jong–un, alegadamente uma das figuras mais influentes do regime, vai fazer parte da comitiva do Norte enviada para a cerimónia inaugural dos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang, que acontecerá amanhã.
A introdução de Kim Yo-jong numa comitiva onde se encontra já o chefe de Estado cerimonial, Kim Yong-nam, é notável. A irmã mais nova do líder norte-coreano é, afinal de contas, também uma das principais responsáveis pela propaganda do regime eremita. Segundo vários analistas e observadores da política norte-coreana, Kim Yo-jong é também uma espécie de confidente do irmão, o que em princípio lhe dá autoridade para entregar uma mensagem em seu nome ao governo sul-coreano.
As mensagens de abertura do regime norte-coreano vão sendo encaradas com um misto de esperança e ceticismo. Os Estados Unidos afirmam que o Norte está apenas a executar uma “ofensiva de charme” e que as negociações com o Sul no sentido de os dois países desfilarem sob uma mesma bandeira amanhã, ou apresentarem até equipas conjuntas nas Olimpíadas, não passam de manobras de diversão destinadas a conquistar fôlego para os seus programas militares.
Mike Pence, o vice-presidente americano e líder da comitiva dos EUA nestas olimpíadas, encontrou-se ontem com o primeiro-ministro japonês em Tóquio, onde reafirmou o ceticismo de Washington e prometeu que Pyongyang não se “esconderá atrás da bandeira olímpica”. O vice-presidente americano anunciou também que Washington apresentará “em breve” o “mais agressivo” conjunto de sanções norte-coreanas até ao momento.
Seul encara a abertura do Norte de forma muito diferente. O recém-chegado presidente Moon Jae-in defende uma via de mais diálogo com Pyongyang e pretende usar os Jogos Olímpicos de Inverno para criar novos canais de contacto. Kim Yo-jong pode revelar-se uma porta para o irmão, embora não haja indícios de que ela tenha mandato – ou intenção – para estabelecer contactos de alto nível. Apesar disto, segundo o “New York Times”, os meios de comunicação sul-coreanos vêm-na já apresentando como uma figura de moderação cosmopolita, uma espécie de Ivanka Trump do regime norte-coreano.