Os leitores que me seguem neste espaço sabem que tenho uma admiração especial por Richard Florida. O cientista político norte-americano é um dos grandes teorizadores da vida urbana e arquiteto de algumas das mais influentes ideias sobre a moderna economia das cidades. Para quem pensa a cidade, os livros de Florida são ponto de passagem obrigatória.
Uma das ideias que tornou Florida um homem popular é admissão de que a tolerância, o talento e a tecnologia são as válvulas no motor do crescimento da urbe. É um círculo virtuoso resumido no enunciado dos 3 “Tês”: a Tolerância e o espírito de abertura atraem o Talento; por sua vez, é o talento que está na base do crescimento económico e da progressão Tecnológica da sociedade.
A evidência mostra que há uma correlação entre prosperidade e tolerância: as cidades mais bem estabelecidas são as mais tolerantes. E, de forma inversa, as cidades menos criativas, menos cosmopolitas e com maior défice de qualidade de vida são, por norma, lugares mais fechados e mais intolerantes.
Chamo Richard Florida a este texto a propósito de um outro que aqui trouxe na última semana. Em “Cascais 2025: o futuro já chegou”, procurei partilhar com os leitores os principais eixos de uma estratégia claramente apostada em fazer de Cascais o melhor lugar para as famílias viverem e para as empresas investirem. Toquei em muitos projetos que vão melhorar a vida no concelho, criar emprego e reforçar o Estado social local. Projetos que retêm talento e tecnologia, matérias-primas que permitirão a Cascais ser competitiva no plano económico e social.
Como decisor político, há poucos valores que preze tanto como a tolerância. Estimo a tolerância pelo seu valor absoluto, como um bem em si, insubstituível na vida democrática. Defendo a tolerância pela dimensão histórica que ela assume num lugar como Cascais – que foi, para muitos, a única cidadela de liberdade numa Europa em guerra; e que é, ainda hoje, um lugar a que 80% das nacionalidades do mundo podem chamar casa. E, por último, promovo a tolerância colocando-a no centro da estratégia competitiva para o território.
Lembra-nos Richard Florida que a tolerância – a abertura à diversidade – não é um subproduto de comunidades mais ricas. A tolerância é, isso sim, um elemento-chave na nova equação do desen-volvimento económico.
De entre todos os projetos que apresentámos para Cascais, há dois grupos que se destacam como injetores de diversidade e tolerância no território. No primeiro grupo estão os investimentos no ensino superior. O novo campus da Nova SBE, em Carcavelos, e a Faculdade de Medicina da Universidade Católica, em Cascais, vão atrair ao concelho uma população multicultural, multilinguística e multirracial, alunos e professores de diferentes origens juntos no aperfeiçoamento da ciência e no aprofundamento dos saberes técnicos.
O segundo grupo enquadra os projetos em parceria com várias confissões religiosas: a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa Russa e a Chabad, a maior e mais dinâmica organização judaica em todo o mundo. Para falar apenas do dossiê que está mais avançado – com a Chabad –, Cascais conseguiu atrair para o concelho um centro judaico de prestígio internacional, um equipamento que vai requalificar – urbanística e ambientalmente – uma área urbana da Guia, criando um centro de estudos, uma biblioteca com obras raríssimas e que contam a nossa tradição judaico-cristã e um espaço verde com características únicas no país. Para além do seu valor arquitetónico e cultural, o Centro Judaico posiciona Cascais como destino privilegiado para turistas judaicos espalhados pelo mundo.
Este ecumenismo é espelho do território onde vivemos: um em cada cinco cascalenses nasceu no estrangeiro e cada vez mais sentimos que há famílias que, em qualquer parte do mundo, olham para Cascais como destino.
Com a redução nos custos de transporte e a aceleração tecnológica das cadeias logísticas, a localização das grandes empresas é feita em função de uma variável determinante: a proximidade do talento.
Até 2025, grandes multinacionais criarão milhares de postos de trabalho em Cascais. Empregos altamente qualificados e novas cadeias de valor. E porquê? Voltamos a Florida: porque Cascais tem talento. E tem talento porquê? Porque é tolerante.
Projetos como o Centro Judaico, na Guia, ou o novo campus da Nova SBE, em Carcavelos, são reflexo de uma opção política pela liberdade, pela inclusão e pela tolerância. São o reflexo de uma estratégia assente nos três Tês: tolerância, talento e tecnologia.
Escreve à quarta-feira