Supernanny “viola Convenção dos Direitos da Criança”, defende juiz

Supernanny “viola Convenção dos Direitos da Criança”, defende juiz


Juiz Paulo Guerra acredita que MP vai avançar procedimento cautelar para proibir programa da SIC


Está longe de terminar a polémica em torno do programa “Supernanny”, da SIC. O juiz desembargador Paulo Guerra foi o último a pronunciar-se, esta quarta-feira, e defendeu à Lusa que o formato viola a Convenção dos Direitos da Criança. “O programa viola flagrantemente o disposto no artigo 16.° da Convenção dos Direitos da Criança, diploma internacional que se aplica diretamente na ordem jurídica portuguesa, como se fosse lei nacional, a partir do momento em que o seu texto foi ratificado por Portugal, em 1990”, disse.

O especialista na área de proteção da criança, que rejeita qualquer valor pedagógico no programa, diz confiar “que o Ministério Público (MP) achará a providência judiciária adequada, que poderá passar por um procedimento cautelar, com vista à proibição da emissão desta repetida e básica ignomínia que torpedeia os direitos fundamentais e humanos de qualquer criança, sujeito de direito e de direitos”. Se queriam ser pedagogos”, contrapõe o magistrado, “simulassem com atores, e nunca com crianças reais que, tenho a certeza, nem sequer foram ouvidas sobre esta exposição e forçosa encenação”, comentou Paulo Guerra.

Depois de a estação televisiva ter recusado a retirar as imagens do primeiro episódio – emitido em 14 de janeiro – de todos os meios, o Ministério Público reagiu e instaurou, esta terça-feira, um inquérito, pelas mãos do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa Oeste, “para investigar factos suscetíveis de integrarem o crime de desobediência”.
Na base do inquérito está o facto de a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Loures ter pedido, na última quinta-feira, que as imagens saíssem do ar. No mesmo dia em que divulgou a abertura do inquérito, a Procuradoria-Geral da República disse também que o MP “está a acompanhar e a analisar todas as possibilidades legais de intervenção”.
Entretanto, como reação à polémica, a SIC organizou um debate emitido na segunda-feira.

A diretora de programas defendeu o conteúdo, reiterando a “intenção puramente social e pedagógica” do formato, uma ideia apoiada também por Teresa Paula Marques, a psicóloga do programa.

No debate estiveram presentes a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), Rosário Farmhouse, que notou que os pais de Margarida, cujo comportamento foi retratado no primeiro episódio, se mostraram “preocupados” com o facto de terem exposto a sua filha.

Dulce Rocha, do Instituto do Apoio à Criança (IAC), também marcou presença, criticando o programa por expor as crianças na sua intimidade. Ambas as instituições já tinham, aliás, emitido opiniões desfavoráveis à emissão do programa depois do primeiro episódio.