Lembro-me de ouvir isto e de achar que esta frase não fazia sentido. Preferir uma resposta negativa desde que não se tenha de esperar muito tempo por ela? É isso que me estão a dizer?
Antigamente sofria bastante por antecipação. Ainda sofro, mas só se estiver muito distraída. Ainda roo as unhas, ainda tenho dores de barriga quando as coisas não correm bem, ainda vou nervosa para as consultas de rotina. Mas menos, cada vez menos. Na altura em que era mestre a ter medo antes do tempo, não me apercebia do quão maltratava o meu presente. Previa e antecipava uma situação negativa que quase sempre não se mostrava assim tão difícil como aquela que havia desenhado na minha cabeça. E quando vivia aquilo que me assustava, já o vivia cansada – porque já tinha gasto todas as minhas energias a projetar o futuro.
Lembro-me de ser miúda, ter muito medo de levar vacinas e de trilhar a minha pele para “me habituar à dor” que iria sentir. Acham isto normal? Magoar-me duas vezes para estar preparada para o pior? E se, por um lado, já controlo as minhas projeções um bocadinho melhor, por outro, se estiver com a TPM, desgraço-me toda com os prognósticos dos signos. Há uns dias ouvi na televisão que os infortunados dos aquarianos nascidos de “3 de fevereiro a 13 de fevereiro” teriam um ano mais difícil. Faço anos a 13. Rezei um pai-nosso porque me lixei… por um dia.
Tirando estas avarias que me dão de vez em quando, aprendi a controlar o drama e a ansiedade quando adoeci. Percebi que tinha duas hipóteses: ou mudava esta forma de estar ou endoidecia. À minha espera estavam exames, consultas, notícias difíceis talvez para uma vida inteira, e apercebi-me do quão sufocante seria viver metida dentro dos “e se”: “e se o exame correr mal?”, “e se a médica se enganar?”, “e se doer muito?”, “e se não passar?”.
E se parar de me torturar a mim mesma? Não é melhor? É Não percebi, até o viver na pele, o quão devastador pode ser esperar por uma resposta. Esse tempo morno é um tempo aparentemente morto, onde ainda nada está a acontecer mas que, na verdade, já está a existir. Esperar pelo resultado, esperar pela resposta, esperar para que nos definam os dias? É do pior.
Preferir uma resposta negativa desde que não se tenha de esperar muito tempo por ela? É isso que me estão a dizer? Sim, é verdade. O ser humano tem a capacidade incrível de adaptação a quase tudo – menos à inquietude. À dor da antecipação da dor. Conseguimos enfrentar a pior catástrofe, mas somos péssimos quando esperamos por ela à porta. Só queremos que apareça, que se despache, que nos bata, mas que venha duma vez para acabarmos logo com aquilo – porque aquilo que nos está a moer, a arder, a doer, é a espera da porrada.
A espera é a verdadeira porrada.
Queridos carequinhas, se temos de esperar? Temos. Mas aproveitem e façam–no no sofá, sentados, serenos, sem pensar muito sobre o que aí vem. As coisas não se resolvem mais depressa só porque ficamos obcecados a pensar nelas. Acalmem os pensamentos e verão que alguma luz atravessará a vossa sala.
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