A lei da oferta e da procura aplicada à informação diz-nos que há cada vez mais informação e cada vez menos atenção disponível. Logo, a sua atenção deveria render muito dinheiro.
Captar a atenção do destinatário justifica o sucesso do publicitário, explica o aumento das vendas de um jornal provocado por uma manchete bem conseguida, o sucesso da multiplicação das plantas com a combinação de cores que mais facilmente atrai os insectos, o aumento da venda de batons em períodos de crise económica… Mas a economia da atenção explica também o que está a acontecer de mais profundo no micromundo das alterações físicas na conformação dos dedos das novas e incansáveis gerações de utilizadores de ecrãs tácteis ou no desenvolvimento de certas zonas dos respectivos cérebros. A economia da atenção também alterou profundamente o macromundo da organização da vida política, desde logo os processos eleitorais que, com regularidade, ocorrem nas democracias ocidentais
A escolha eleitoral é influenciada pela informação e, claro, pela economia da informação, pela gestão da escassíssima atenção disponível no universo dos eleitores. Não basta já a propaganda ou os brindes. Não chegam os jornais de campanha, os tempos de antena, os debates ou as entrevistas. É preciso penetrar as diversas bolhas em que vivem grupos significativos de humanos, os que querem ouvir apenas uma determinada verdade, repetida ad nauseam e acompanhada de likes que desencadeiam a libertação de dopamina. As redes sociais são os novos pastores de almas, sabem o que é melhor para cada um. E pastoreiam–nos com o mesmo cuidado na gestão da dependência posto por um dealer com sentido do negócio: o boi come-se aos bifes. A verdade ou a falsidade da informação são irrelevantes. A informação vale pela quantidade de vezes que é repetida e “likada”. Não vale pela persuasão dos argumentos expostos, vale pela fé, pelo meio em que é propagada, pela rede social que a dissemina. O meio é a mensagem. E não há nem outra mensagem nem outro meio.
O temor de uma potencial concentração de meios de comunicação social nas mãos de um ou de poucos tornou-se uma anedota histórica. O poder dos conglomerados de redes sociais é o equivalente moderno e real de um mix entre “Frankenstein”, “Citizen Kane” e “1984”.
Não deixa de ser curioso que o discurso em torno das liberdades na net (liberdade de acesso, igualdade no acesso e na velocidade de acesso, liberdade de conteúdos) tenha deixado de fazer parte das discussões públicas ao mesmo tempo que os algoritmos perpetuadores das bolhas e das verdades únicas e adoradas se encarregaram de formatar e de censurar a informação disponível. Quando no passado percorríamos uma enciclopédia impressa, éramos confrontados com a “terrível” limitação de as respectivas entradas estarem escritas, definitivamente escritas. Mas podíamos percorrer diversas entradas e escolher as que nos interessavam. Tente o leitor o fascinante exercício de fazer uma pesquisa no Google, variando os computadores a partir dos quais a faz (e que aprenderam a fornecer um determinado tipo de informação a utilizador do referido computador) ou a nacionalidade do Google que utiliza.
No final do séc. xix, os EUA foram capazes de aprovar e aplicar legislação contra os cartéis comerciais e industriais. Nos dias de hoje, o Senado americano não consegue aplicar aos gigantes das redes sociais as regras do “Honest Ads Act” que já se aplicam à propaganda política tradicional. O tema da manipulação da campanha eleitoral americana ainda vai dar mais notícias. E, infelizmente, não serão fake news.
Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990