Contra alertas do seu próprio Departamento de Estado e quase toda a comunidade internacional, Donald Trump confirmou esta terça-feira que vai mesmo reconhecer a cidade de Jerusalém como a capital de Israel, efetivamente rompendo com a política externa americana dos últimos 40 anos, ignorando o consenso mundial sobre o processo de paz no Médio Oriente e arriscando abrir portas a um novo período de conflito. A decisão, que parece estar tomada, será em anunciada hoje.
A notícia rompeu esta terça à tarde, assim que Trump telefonou a Mahmoud Abbas, o líder da Autoridade Palestiniana, informando-o da decisão. Minutos depois, o líder americano comunicou o mesmo ao rei da Jordânia, um dos mais importantes aliados de Washington no Médio Oriente, e ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Abdullah, o monarca jordano respondeu dizendo que a decisão “vai provocar tanto muçulmanos como cristãos” e Abbas pediu pouco depois ajuda ao Papa Francisco e aos presidentes de França e Rússia.
“[Abbas] alertou para as consequências perigosas que essa decisão terá para o processo de paz e para a paz, segurança e estabilidade da região e do mundo”, afirmou um porta-voz da Autoridade Palestiniana, repetindo o argumento que outros responsáveis lançaram no início da semana, quando começaram a surgir relatos de que Trump se preparava para cumprir esta promessa de campanha.
Também Bruxelas reagiu dizendo que a decisão vai ter “repercussões sérias na opinião pública em muitas partes do mundo” e acrescentando o alerta aos que no começo da semana já haviam sido lançados por Emmanuel Macron. À hora de fecho desta edição, 15 países e organizações já se haviam insurgido contra a manobra.
Segundo avançava esta terça o “New York Times”, Trump vai anunciar hoje o reconhecimento da nova capital israelita e o começo dos preparativos para mudar a embaixada americana de Telavive para Jerusalém. A mudança, em todo o caso, acontecerá somente em seis meses, quando a lei americana voltar a colocar a questão em cima da mesa. Com ou sem embaixada, porém, o efeito da declaração de Trump não muda: a resposta será imprevisível, mas provavelmente violenta. Esperam-se motins nos bairros muçulmanos do leste de Jerusalém, em especial na sexta-feira, dia de grandes orações muçulmanas.
Consequências?
Reconhecer Jerusalém como a capital israelita fere de morte a aspiração palestiniana de fazer da parte leste da cidade a sua capital futura. Jerusalém é um local sagrado para as três religiões monoteístas, mas para os muçulmanos, para além do terceiro local mais sagrado depois de Meca e Medina, a cidade é também um dos maiores símbolos do domínio israelita iniciado com a guerra de 1967, data em que os seus bairros passaram para a administração judaica – a ONU não reconhece a ocupação e a comunidade internacional tem na sua maioria embaixadas em Telavive, não Jerusalém, para sinalizar oposição ao statu quo.
“Jerusalém é uma linha vermelha para os muçulmanos”, lançou esta terça-feira de manhã o presidente da Turquia,_Recep Tayyip Erdogan, que ameaçou cortar de novo relações diplomáticas com Israel caso o presidente americano cumprisse com a manobra de campanha. Confirmando-se o anúncio de hoje, Trump arrisca-se a irar os aliados sunitas que vem cultivando na região para contrariar a emergência iraniana, que também responderá em força.
“Quererá dizer o mesmo para todas as nações muçulmanas do mundo”, escreve Robert Fisk, o veterano correspondente do Médio Oriente para o “Independent”. “O sonho israelita pode tornar-se realidade se Trump anunciar que Jerusalém é a capital de Israel. Mas é um pesadelo árabe.”