A escolha do futuro presidente do PSD passa por eleições primárias. Mas o líder assim eleito não tem fatalmente de ser o candidato do PSD a primeiro-ministro.
Se as eleições primárias vieram transformar os congressos partidários em palcos para a entronização do líder, há ainda muitos elementos no mecanismo das primárias que podem ser trabalhados para tornar o processo mais participado pelos eleitores e mais disputado pelos candidatos à eleição.
O universo eleitoral pode ser alargado, incluindo simpatizantes que como tal se inscrevam. Tal é prática corrente em Itália, foi experimentado com sucesso em França e até o PS provou, em Portugal, que o procedimento pode atrair aqueles que não querem dar o passo em direcção à militância mas que estão disponíveis para sufragar um determinado programa partidário. No actual contexto do PSD, seria curioso ver se os candidatos anunciados aceitariam tal possibilidade como forma de arejar o partido e mitigar o caciquismo dos militantes. Para os mais esquecidos, deve lembrar-se que António Costa, desconfiado do poder de Seguro junto das estruturas do PS, propôs eleições primárias que acabaram por ser aceites à contrecoeur pelo então secretário-geral.
Um outro elemento que pode devolver algum interesse à compita eleitoral no PSD e mobilizar os cidadãos que não são militantes (ou seja, a maioria dos portugueses…) passa pela possibilidade de o líder partidário não ser o candidato a PM. A aposta num presidencialismo partidário pode servir os interesses do líder que pretenda sobreviver a um ciclo eleitoral pouco auspicioso, como o que se anuncia para as eleições de 2019. Sejam ou não agrupadas no mesmo dia as eleições para o Parlamento Europeu e as legislativas, em qualquer dos casos, o PS surge com boas hipóteses de aumentar a votação.
Mas a eleição de um presidente do PSD que não seja candidato a PM poderia também suprir as limitações das duas candidaturas anunciadas, em que, pela primeira vez na história da liderança do PSD, o relógio anda para trás e não para a frente: Passos nasceu em 64, Rio em 57 e Santana em 56. Um presidente mais velho e mais experiente poderia lançar um (ou sucessivos) candidatos a PM, mais jovens e motivadores, num ticket abrangente que acabasse por agradar a várias gerações e grupos sociais.
O modelo presidencial poderia servir a Santana, que já foi PM e que se poderia guardar para um raide sobre o Palácio de Belém. Já Rui Rio, sem percurso governamental, muito menos como PM, está mais limitado na escolha deste modelo.
Com a escolha limitada a Rio e Santana, chegará a dificuldade de liderar a oposição sem ter assento na Assembleia da República, com debates quinzenais que qualquer governo aproveita para mostrar a obra feita, nem que seja legislativa. Marcelo Rebelo de Sousa, durante vários anos, e António Costa, durante menos tempo, já conviveram com tal problema e perceberam a importância de um líder parlamentar forte para disciplinar a bancada (cujos deputados não foram escolhidos pelo novo líder…) e para vender um programa político alternativo ao do governo (com o redobrado perigo de a autoproclamada líder da oposição reivindicar para o CDS esse papel).
A pré-campanha de Rio e de Santana assentou no contar de espingardas da cacicagem provincial, na verrina do ataque preventivo baseado no passado político do adversário e na mais absoluta incapacidade de entusiasmar quem quer que seja que não tenha a militância à venda na bolsa dos caciques. É pouco, é menos do que o PSD precisa e é muito menos do que os portugueses merecem.