Barcelona constitui um dos destinos turísticos que mais cresceram na última década e o turismo já representa 11% do PIB da Catalunha, contribuindo para a diminuição do desemprego em Espanha. Esse desenvolvimento do turismo tem uma explicação clara. Desde o surgimento da Primavera Árabe que os países da margem sul do Mediterrâneo deixaram de ser considerados destinos seguros para os turistas, o que restringiu a oferta turística à margem norte. É por isso que os países do sul da Europa, incluindo Portugal, tiveram um grande incremento de turistas.
Curiosamente esse aumento de turistas, altamente benéfico para a economia, está a ser objecto de forte contestação por parte de grupos de esquerda radical que aliciam os residentes para protestos. E especialmente Barcelona tem sido alvo de violentos protestos contra os turistas na cidade, tendo-se assistido à vandalização de autocarros de turismo e até, há pouco mais de uma semana, a uma manifestação antituristas na praia adjacente ao bairro de Barceloneta.
Sucede, porém, que na guerra que o Estado Islâmico declarou ao Ocidente, os sítios turísticos são considerados alvos principais, sabendo-se do impacto económico no sector do turismo que tem qualquer atentado.
É assim que, como se viu em Paris, Bruxelas, Nice e, agora, Barcelona, são sempre os turistas o alvo preferido dos terroristas, tendo o atentado das Ramblas causado vítimas de 34 nacionalidades, incluindo a morte de duas portuguesas. Barcelona vai perder assim, devido a este atentado, imensos turistas nos próximos anos, com consequências dramáticas para o emprego local.
Durante a Guerra Fria costumava dizer-se que, enquanto a URSS instalava os seus mísseis SS20, o Ocidente assistia a manifestações derrotistas de pacifistas, tendo ficado célebre o slogan “antes vermelhos do que mortos!”. Hoje em dia, enquanto o Estado Islâmico procura destruir a economia dos países europeus, escolhendo os sítios turísticos como alvo de atentados terroristas, aparecem manifestações contra os turistas nas cidades europeias que estes, apesar de tudo, decidem visitar. Estes manifestantes tanto podem ser verdadeiras quintas- -colunas como simples idiotas úteis. A verdade, no entanto, é que estão a fazer o jogo do inimigo. E, como se demonstra pelo atentado de Barcelona, é muito fácil afastar os turistas de uma cidade. Já recuperá-los, pelo contrário, leva décadas para se conseguir.
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Escreve à terça-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990