Madeira. Quando o vento e a má gestão deixam pessoas em terra

Madeira. Quando o vento e a má gestão deixam pessoas em terra


Voos cancelados e aviões que mudaram de rota devido ao vento forte que atingiu a Madeira. As condições meteorológicas são imprevisíveis, mas não ajudará o facto de o aeroporto estar construído na zona mais ventosa da ilha


Cristina Silva terminou o curso de Ciências Farmacêuticas na semana passada. Com emprego assegurado na Madeira, era hora de voltar à terra natal.

O voo da TAP estava marcado para segunda à tarde e Cristina embarcou à hora prevista. O problema surgiu apenas na hora de aterrar. “O piloto ainda andou às voltas, já perto do aeroporto, mas, por segurança, optou por voltar a Lisboa”, conta ao i. Esta não foi a primeira vez que o vento forte fez com que a viagem de Cristina voltasse ao ponto de partida. “Em fevereiro aconteceu uma situação parecida, a diferença é que ocorreu apenas com o meu voo”, refere. Desta vez, à chegada acumulavam-se centenas de passageiros que, ao longo do dia, tinham visto os seus voos cancelados.

Cristina conseguiu nova viagem, assegurada pela companhia aérea, para dia 28. Até lá, e como não era passageira em trânsito, foi aconselhada pelos funcionários do apoio ao cliente a voltar para casa. Mas Cristina, com viagem definitiva de regresso à Madeira, já não tem casa em Lisboa e, como tal, aguarda num hotel pelo dia do regresso. “Tenho estado a guardar todos os recibos de alojamento e refeições, na esperança de que me devolvam o dinheiro”, refere.

Esse processo foi mais rápido para João Dias, que no dia 7 de julho faria a viagem Funchal-Lisboa. Conjugamos o verbo no condicional, porque o voo nunca existiu, apesar de lhe terem sido asseguradas todas as despesas de alojamento, refeições e táxis até ter nova hipótese de voltar.

Neste caso, o mau tempo foi em Madrid, de onde partia o avião da easyJet que faria paragens em Lisboa e Funchal e regressaria novamente a Lisboa. O imprevisto fez com que o avião nunca chegasse à Madeira e, por isso, a alternativa seguinte apresentada pela companhia aérea seria um voo a 14 de julho. “Isso significava mais uma semana, quando eu voltava ao trabalho na segunda-feira”, conta ao i o engenheiro mecânico. Acabou por pedir a devolução do dinheiro do bilhete – perto de 30 euros – e, em contrapartida, viu-se obrigado a optar por um voo da TAP no valor de 225 euros, mas que lhe assegurava a chegada na madrugada de segunda, a tempo de ir trabalhar.

Mau tempo nas ilhas

Quem faz regularmente a viagem entre o Continente e as Ilhas habituou-se a atrasos e cancelamentos provocados pelas condições meteorológicas típicas destes locais.

O aeroporto da Madeira, que já foi considerado um dos mais perigosos do mundo devido às condições de aterragem, foi construído numa das zonas da ilha mais suscetíveis ao vento. Fonte do IPMA lembra, em declarações ao i, que o aeroporto Cristiano Ronaldo fica na zona este da ilha, a mais exposta à corrente nordeste, o que dificulta a aterragem e descolagem nos dias mais ventosos. Nos últimos dias, os ventos chegaram aos 90 km/hora.

Estas condições adversas afetaram mais de dois mil passageiros da TAP, entre Funchal, Lisboa e Porto. A empresa referiu não ter sido possível acautelar alojamento para todos os passageiros afetados, mas disse que fica garantido o pagamento das verbas gastas em acomodação. Já a easyJet viu 13 dos seus voos cancelados e, em comunicado, garantiu que os passageiros “foram informados, receberam vouchers e refeições”, podendo ainda “reservar um lugar nos próximos voos disponíveis”.

Tráfego aumenta

O tráfego de passageiros nos aeroportos portugueses aumentou 20,6% no segundo trimestre de 2017 face ao mesmo período do ano anterior. Pelo aeroporto da Madeira passaram mais 936 mil passageiros, mas foram os Açores a registar o aumento mais substancial, com um crescimento de 26,2%.

Este aumento é encarado como uma boa notícia para o país, mas a onda de otimismo esbarrou a semana passada com uma questão logística: o aumento do turismo nos Açores não tem sido acompanhado pelo crescimento dos serviços de hotelaria.

No dia 22 de julho, o voo entre Ponta Delgada e Providence, em Rhode Island, saiu de São Miguel com 170 passageiros, mas cerca de duas horas depois da descolagem teve de voltar à base devido a uma anomalia técnica. No regresso, a tripulação tinha já esgotado o tempo disponível no seu horário de trabalho e o voo foi cancelado.

Segundo a SATA, muitos passageiros voltaram a casa e alguns conseguiram alojamento em hotéis. No entanto, a capacidade hoteleira em São Miguel esgotou e 37 passageiros tiveram mesmo de dormir no aeroporto. Tratando-se de uma situação extraordinária, a SATA remediou a situação com refeições e mantas distribuídas por quem não conseguiu alojamento.