A Ronaldomania


Inicio hoje uma coluna que espero ter vida longa. Escreverei com feroz independência, como sempre fiz em relação à política. Não irei em ondas. Não embarcarei em fenómenos como a “Ronaldomania”, que atacou milhões de portugueses. 


Não sei se Ronaldo fugiu ou não aos impostos e fico estupefacto ao ouvir Manuela Ferreira Leite, que foi uma dura ministra das Finanças, dizer que ele não deve nada ao fisco espanhol.

Espantoso!

É evidente que Ronaldo é um enorme jogador de futebol, mas isso não justifica tudo. E não é o melhor do mundo. Há no mundo grandes guarda-redes, grandes defesas, grandes médios e grandes avançados. É claro que os avançados dão mais nas vistas porque marcam golos – e os que jogam em grandes equipas têm a oportunidade de marcar em jogos decisivos.

Cristiano Ronaldo começou por dar nas vistas como extremo: veloz, muito habilidoso e imprevisível. Mas quando foi para Manchester, Alex Ferguson viu nele outras qualidades e disse-lhe: “Vais marcar muitos golos.” E Ronaldo foi mudando a forma de jogar. Começou a concentrar toda a sua energia e talento no remate – fosse na marcação de livres, em jogadas de bola corrida ou com a cabeça.

Ao fim de dois ou três anos, Ronaldo era outro jogador: o extremo habilidoso dera lugar a um goleador temível. Uma verdadeira máquina de fazer golos. E hoje é só praticamente isso: os seis últimos golos que marcou, na seleção e na final da Champions, resultaram apenas de um toque na bola. Ronaldo tornou-se um jogador de “último toque”.

Ronaldo não é o melhor jogador do mundo porque a sua participação no jogo coletivo é diminuta. Enquanto Messi tece as malhas do jogo da equipa em que atua – seja o Barcelona ou a seleção argentina –, Ronaldo corre para a área à espera que a bola lhe chegue para a encaminhar para a baliza. Como fazia Pauleta (o segundo maior marcador de sempre de Portugal). Claro que as vitórias fazem-se de golos mas, sem uma grande equipa atrás dele, Ronaldo não poderia marcar tantos. Por isso, o seu rendimento na seleção é geralmente inferior ao que é no Real Madrid.

Ao passo que Messi joga muitas vezes para os outros – corre, finta, faz passes de rutura, oferece bolas de bandeja –, Ronaldo precisa que os outros joguem para ele.

Ronaldo tem, entretanto, uma vantagem sobre Messi que o eleva para outros patamares: o físico e a imagem (que, aliás, cultiva com desvelo). Alguém imagina, por exemplo, Messi a fazer anúncios de cuecas? Seria ridículo. Em tudo o que é imagem, marca, ícone, CR7 é muito mais forte. E isso guindou-o mais facilmente ao Olimpo, apoiado numa máquina de propaganda poderosíssima.

Mas os que pretendem ver além das aparências têm de olhar para Ronaldo apenas como um futebolista – e ser capazes de perceber as suas qualidades e limitações atuais.