O Benfica reagiu esta sexta-feira de modo oficial, pela primeira vez, à polémica lançada nas últimas semanas pelo diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, no Porto Canal sobre as trocas de e-mails entre funcionários encarnados e membros ligados à arbitragem e à Liga de clubes. Os portistas, recorde-se, fizeram acusações graves, atribuindo atos de corrupção e tráfico de influências aos encarnados – entretanto, também o Sporting se uniu aos dragões, pedindo inclusive a descida de divisão para as águias caso tais cenários se verificassem na Justiça.
A resposta do Benfica surgiu agora, e num tom autoritário. Pela voz do seu diretor de comunicação, Luís Bernardo, os encarnados garantem estar de consciência tranquila e dispostos a colaborar com as autoridades para chegar à verdade dos factos, mas prometem também agir judicialmente contra os dois rivais. "O Benfica está forte, unido e coeso. Somos tetra, somos uma referência a nível internacional e estamos com grande estabilidade e com um rumo definido. Basta ver a preparação desta época. Todas as entradas e saídas foram preparadas com tempo, uma planificação bem feita, ao contrário dos nossos adversários. O FC Porto vive momento financeiro difícil, está intervencionado, perdeu a sua autonomia está numa situação financeira de descalabro. Temos assistido a acusações de que a culpa do seu insucesso e financeiro foi do anterior treinador. Há um grande impasse no clube. O Sporting também vive momento difícil, com indefinição do ponto de vista estratégica, se a aposta é na formação ou se isso não chega. É neste quadro que tentam desestabilizar o Benfica. Há dois anos a contração de Jesus, depois os vouchers e agora os e-mails", começou por dizer Luís Bernardo.
Seguiu-se então a abordagem ao tema do momento. "Isto surgiu há três semanas e na altura o Benfica requereu abertura de processo por violação de correspondência privada. Essa investigação tem desenvolvimentos, os dados que temos são extremamente grave, de enorme melindre, mas serão analisados em termos da própria investigação do MP. São dados que o Benfica recolheu nas perícias técnicas, surgindo a hipótese de pirataria informática. Se houve pagamento do FC Porto? Não posso confirmar, não vou esclarecer se foi uma empresa de hackers que estabeleceu esses dados, o que é claro é que o FC Porto afirma ter acesso a informação privada do Benfica e tem a tornado pública. O FC Porto teve acesso a informação confidencial do Benfica. A nossa análise diz que houve violação do sistema informático do clube. Se os e-mails existem ou não cabe ao MP dizer, se foram objeto de falsificação, se estão descontextualizados. Tem de ser analisado com todo o cuidado. É urgente que esta investigação a este caso seja séria, a nível dos órgão desportivos e civil. O Benfica tem total abertura para facilitar acesso a toda a informação, tem as portas abertas e está tranquilo, quer que se investigue a fundo. Queremos que a verdade venha ao de cima e que os responsáveis seja responsabilizados", salientou o diretor de comunicação das águias, na intervenção à BTV, explicando ainda a razão de só agora o Benfica se ter pronunciado oficialmente sobre o assunto: "Tivemos de recolher informação. Avançámos com o processo que se exigia, recolhemos informação e a nossa equipa de advogados irá conduzir o processo. Entendemos que era a metodologia correta. Os benfiquistas já perceberam a falta de consistência do que veio a lume. Vamos esperar serenamente pelas conclusões e depois sim pediremos consequências."
Questionado diretamente sobre se considera haver, de facto, indícios de corrupção nos referidos e-mails, Luís Bernardo foi perentório. "É consensual que ali não há nada de corrupção. Todos os temas levantados não tiveram consequência, o que significa que isto é tudo muito frágil. Portanto estamos muito tranquilos. É altura da justiça falar. Polvo? Isso é ridículo. O atual presidente da Liga foi escolhido por FC Porto e Sporting, o presidente do CA também. Mesmo o atual presidente da FPF foi do FC Porto. Isso não tem fundamento. Onde o Benfica tem dominado é dentro do campo. Tudo isto é uma cortina de fumo para desviar atenções de insucesso desportivo e insuficiências económicas. No próximo ano só o apuramento para a Champions dá acesso direto. Portanto, é um campeonato complicado. A partir de agora será a nossa equipa de advogados a falar sobre este tema", prometeu.
Garantindo confiança total e inequívoca em Paulo Gonçalves, um dos elementos envolvidos na referida troca de e-mails, Luís Bernardo revelou que o Benfica não foi contactado pelo Ministério Público. "Houve apenas alguns procedimentos, mas as portas estão abertas. Compreendo que não haja coragem do FC Porto para assumir a denúncia. Que leitura merece? Se fosse o FC Porto a assumir teria de dar acesso a toda a informação que tem e como muitas delas são denúncias de coação feitas junto do Benfica, isso não lhes interessa divulgar. Há um clima muito crispado no futebol português que vai dificultar o início da competição. São levantadas insinuações muito graves e condena-se logo. Nós temos tido muita informação grave, que forneceremos ao MP", realçou o elemento ligado ao Benfica, assumindo que este cenário "condiciona os árbitros": "É claro. É urgente haver uma decisão rápida para as competições começarem com isto resolvido."
Luís Bernardo partiu, então, para o contra-ataque, revelando que o clube encarnado irá agir judicialmente contra os rivais. "Todos os lesados vão interpôr acções por ciber-crime. Nos próximos dias entrarão processos-crime contra Pinto da Costa, contra a SAD do FC Porto – significa que têm têm acesso a contratos de nível comercial. Crime económico? Se o FC Porto alega ter informação confidencial, terá tido acesso a informação comercial e isso é um crime grave", começou por dizer, antes de afirmar o desejo do Benfica de pedir a reabertura do processo Apito Dourado: "Temos recebido centenas de denúncias de pressões sobre agentes desportivos por parte de responsáveis do FC Porto e nessa sequência vemos uma linha de conduta do passado. Vamos requerer a abertura do Apito Dourado e que seja reanalisado a legalidade das escutas do Apito Dourado. Muitas das pessoas ligadas ao AD estão ligadas aos casos que ocorrem nos últimos dois anos: a ameaça que Pinto da Costa fez ao árbitro Rui Costa num jogo com o Arouca; da ameaça de Luis Gonçalves a Tiago Antunes, que disse que a sua carreira ia ficar comprometido – e curiosamente ele desceu de divisão; das declarações de Fernando Madureira em que afirma no Facebook que o FC Porto ia perder com o Moreirense para o Tondela descer de divisão. Tem de ser investigado. É o mesmo tipo de conduta da era do Apito Dourado e há ligações que se mantêm."
Francisco J. Marques também será indiciado, no caso por ter alegadamente começado a trabalhar no FC Porto enquanto ainda era jornalista da Agência Lusa – em 2008, o Benfica chegou a fazer uma queixa na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) contra o então jornalista, acusando-o de falta de parcialidade. "Há quatro meses recebemos informação em que dava acesso ao contrato do atual responsável da comunicação do FC Porto, demonstrado que quando estava na Lusa já tinha contrato com o FC Porto. Não sei se é verdade, ou não. Tenho aqui o contrato e será fornecido para investigação. É um contrato de trabalho a termo certo. O que está declarado é que na data em que era editor de desporto da Lusa já tinha avença com o FC Porto. É muito grave. Ao investigar descobrimos que o Benfica tinha feito queixa na ERC em relação ao atual diretor de comunicação do FC Porto por prática de jornalismo tendencioso. Tem de perceber a gravidade deste tipo de atitudes. O Benfica tem muita informação mas não é para a praça pública. O futebol português tem de ser privilegiado. O Benfica tem feito um trabalho tremendo nos últimos 15 anos, apostamos na formação e não no crime informático. A justiça que faça o seu trabalho e tire as suas conclusões. Mas o Benfica está muito tranquilo e exigirá consequências", indicou Luís Bernardo, revelando depois que os encarnados também irão acusar Bruno de Carvalho, presidente do Sporting: "Foi pública a declaração num encontro com jornalistas onde se gabou de afastar Vítor Pereira da UEFA e de ter escolhido o atual presidente da Liga, Pedro Proença. Isso sim figura um tráfico de influências e o Benfica vai abrir o devido procedimento para que a situação seja investigada. Nos próximos dias serão abertos vários processos para que todas essas questões sejam esclarecidas."
A terminar, e questionado sobre uma aliança entre FC Porto e Sporting, que pedem a retirada dos quatro títulos conquistados pelo Benfica nas últimas épocas, Luís Bernardo respondeu desta forma: "Isso é inequívoco mas não me interessa caracterizá-la. Eles lá saberão a sua estratégia." Da mesma maneira, refutou-se a comentar a noticiada investigação às transferências de Bruno César e Alan Ruiz para Alvalade. "O Sporting terá oportunidade de esclarecer isso em sede própria", sentenciou.