Há estudos crescentes que indicam uma tendência entre a população masculina para o decair da qualidade do sémen. Se isto fosse ficção científica podíamos especular que a própria natureza concebeu uma maneira de se livrar do excedente populacional debilitando a capacidade desta raça super-populosa de continuar a reproduzir-se até esgotar os recursos disponíveis no planeta. Mais provável será que há muito a raça humana tenha superado a lógica darwiniana, sendo evidente que de há várias décadas a esta parte já não sobrevivem e se reproduzem apenas os mais fortes, mas todos os que têm acesso aos benefícios da ciência. O facto, é que são cada vez em maior número os casais que se vêm obrigados a procurar ajuda médica para terem filhos.
Sendo para muitos uma questão particularmente sensível, não são poucos os homens que recusam fazer os testes de infertilidade ao estigma cultural que ainda associa masculinidade à capacidade de produzir um esperma saudável. Mas a ciência agora tem uma solução para os mais complexados. Investigadores da Universidade Harvard (EUA) desenvolveram um acessório descartável que custa cerca de quatro euros e que permite que os homens meçam a qualidade do sémen com o próprio telemóvel. Para já trata-se ainda de um protótipo, mas promete tornar-se uma solução que ajudará os 45 milhões de casais que se calcula que em todo o mundo sejam afectados por problemas de infertilidade. Segundo as pesquisas, em 40% dos casos o motivo da incapacidade do casal reproduzir-se liga-se à infertilidade masculina.
Este equipamento, além do material para colher a amostra de sêmen, inclui um microchip e um aplicação para o telemóvel que guia o usuário durante o processo. Os autores do estudo, coordenado por Hadi Shafiee, realizaram com recurso a este sistema 350 amostras de amostras recolhidas no Hospital Geral de Massachusetts, e obtiveram resultados animadores, com 98% de precisão, de acordo com o artigo que publicaram na semana passada na revista "Sciente Translational Medicine". Em média, os testes foram realizados em menos de cinco segundos.
O que este acessório avalia é a concentração de espermatozóides, a capacidade destes de se movimentarem e a sua morfologia. Actualmente, segundo explicam os autores, os métodos de análise habituais nos hospitais são a contagem manual no microscópio e a análise assistida por computador. “Estes métodos dão muito trabalho, são caros e requerem laboratórios”, sublinham os investigadores.
“Este dispositivo pode fazer com que os testes de infertilidade masculina sejam tão simples como os de gravidez”, diz Shafiee. O professor da Escola Médica de Harvard adianta que a comercialização desta tecnologia irá avançar assim que forem solicitadas as permissões às autoridades sanitárias dos EUA e UE. “É cedo para dizer quando o dispositivo chegará ao mercado”, admite.
Além do uso em casais que estejam a tentar engravidar, a equipa liderada por Shafiee lembra que o dispositivo poderá ser utilizado também para supervisionar o sucesso de uma vasectomia e para medir a qualidade do esperma de sementais animais. O facto do aparelho ser barato poderá ter um impacto decisivo nas regiões mais pobres do planeta, que são também aquelas onde o estigma cultural da infertilidade masculina mais se faz sentir.