A trama sul-coreana acabou finalmente com Park

A trama sul-coreana acabou finalmente com Park


A filha do antigo ditador torna-se na primeira presidente destituída pelos tribunais. O poder em Seul deve trocar de mãos, impactando a relação com o Norte e Pequim. 


A Presidente sul-coreana foi esta sexta-feira destituída pela máxima instância jurídica, que entende que a (agora) ex-líder violou a lei ao participar nas operações de extorsão, subornos e abuso de poder da sua confidente e aliada de longa data, agora detida.

Park Geun-hye, filha do antigo ditador Park Chung-hee, torna-se assim na primeira líder sul-coreana a ser destituída do cargo, do qual fora afastada em dezembro. No exterior do tribunal, uma pequena multidão reuniu-se em sua defesa. No momento de se conhecer a decisão, romperam alguns confrontos e dois manifestantes morreram.

Park não comentou a decisão unânime do coletivo de juízes do Tribunal Constitucional para além de fazer saber, pelo líder do seu Partido Conservador, que “respeita humildemente” o julgamento. A Coreia do Sul tem agora 60 dias para eleger um novo Presidente, que deve vir do partido de centro-esquerda, defensor de mais diálogo com o Norte.

A decisão desta sexta-feira é o culminar da trama judicial e mediática que engoliu a Coreia do Sul nos últimos meses e provocou dezenas de protestos a favor e contra Park.

Ligação familiar

A líder coreana perde agora a imunidade que lhe garantia o gabinete da presidência e está sujeita a ser julgada e condenada pelas operações de nascidas da sua relação com Choi Soon-sil, filha de um líder espiritual cristão que se aliou ao pai da Presidente destituída, participou muito de perto na educação de Park e parece ter construído um império de negócios através da sua proximidade ao poder nas décadas de 60 e 70.

O antigo ditador sul-coreano, aliás, foi em parte assassinado pela perceção de que Choi Tae-min tinha muita influência sobre a sua presidência. Se o pai Choi influenciou a queda do pai Park, a filha Choi participou muito ativamente na queda da filha Park.

Com o seu conselho, poder, desígnio e influência, a Presidente destituída fez com que várias empresas sul-coreanas contribuíssem para grupos controladas por Choi, alguns sob o falso desígnio de organizações humanitárias e sem fins lucrativos, pelos quais enriqueceu com milhões de dólares.

Pelo caminho, o homem forte da Samsung, Lee Jae-yong, foi detido e acusado de ter subornado Park e a sua aliada Choi.

Mudanças coreanas

A provável mudança no poder sul-coreano tem implicações mais vastas, sobretudo num momento em que a Ásia se encontra em mutação política, com líderes como Rodrigo Duterte, nas Filipinas, a desafiar as alianças das últimas décadas e a aproximar-se de Pequim.

O próximo Governo sul-coreano terá também de escolher uma nova abordagem aos galopantes programas balístico e nuclear da Coreia doNorte.

O regime melhorou consideravelmente o seu arsenal no mandato de Park, aumentou o número de provocações militares e diz estar prestes a chegar a um míssil intercontinental que ameace os Estados Unidos. De Washington, aliás, vem chegando aos poucos um avançado sistema antimíssil que Pequim e o Norte repudiam.