O Presidente já disse uma vez “aquele Vítor Matos é um grande chato”…
Isso foi porque durante a campanha eu lhe fiz uma entrevista e insisti muito em perguntas a que ele fugia, não queria responder. E ele saiu da entrevista e a TVI estava a fazer uma reportagem de bastidores. Chegou ao carro, não se lembrou que estava a ser filmado e é captado pela câmara a dizer: “Aquele Vítor Matos é um chato, é todo Maria de Belém”. Não sei onde é que ele foi buscar isso. Acho que insisti um bocado na agressividade que ele teve no debate com Maria de Belém, Marcelo foi muito agressivo com ela e ela não era a ‘challenger’. Depois disto diz: “Não, ele é todo Jorge Coelho”. Essa ainda hoje estou para perceber. Mas tendo em conta que escrevi a biografia de Marcelo se ele chegasse lá e dissesse ‘aquele Vítor Matos fez-me uma entrevista fantástica e é mesmo simpático’ tinha-me deixado bastante mais preocupado (risos).
Acha que Marcelo não gostou da biografia?
Não sei, nunca soube o que ele pensava. Mas acho que ninguém gosta muito de se sentir observado. Sei mais sobre ele do que a média das pessoas.
Este Marcelo Presidente da República é o Marcelo que estava à espera?
Em muitas coisas sim. Mas uma das marcas da presidência dele é a questão dos afetos. Eu retratei sempre Marcelo Rebelo de Sousa como uma pessoa racional, fria, distante. Andei muito tempo a estudá-lo, a falar com pessoas. Não tinha antes uma relação com ele. Não o conhecia para fazer eu uma avaliação pessoal, mas achava que ele era uma pessoa que pensava os sentimentos. Mais do que sentir, ele pensava os sentimentos que achava serem os corretos em determinadas circunstâncias. Posso estar completamente errado nisto. Continuo a achar que ele é uma pessoa absolutamente racional, fria. Mas acho que na questão dos afetos, Marcelo é assim, genuinamente, com as pessoas mais fracas, com os desprotegidos, com os deserdados. Isso é todo o lado católico de Marcelo. Marcelo, Guterres, eles são assim. Isto é o Marcelo a desempenhar uma missão. Ele disse-me, numa das últimas entrevistas, que só se candidatava se sentisse um chamamento divino. Ele acredita na Providência divina e achava que Deus tinha que lhe enviar um sinal muito forte para se candidatar, da mesma maneira que lhe tinha enviado antes sinais muito fortes para não fazer certas coisas. Acho que esta coisa dos afetos e da relação que ele tem com o povo – para além de politicamente criar um laço, uma proximidade do poder político, da instituição com o povo… Acho que para além disso tem o lado do católico que quer chegar aos mais fracos. Ele não anda aos beijinhos e aos abraços com o pessoal da Lapa e da Estrela. Não é por acaso que ele, no dia em que faz um ano como Presidente da República, vai distribuir a revista “Cais”. Não é por acaso que quando se fala de eutanásia, ele lembra que é voluntário em equipas de cuidados paliativos.
Leia a entrevista completa a Vítor Matos hoje no i