Estatísticas, probabilidades, algoritmos vários. Nunca são descartados na hora de fazer antevisões, embora todos saibamos que na hora da verdade, a História não joga. Ou… jogará?
Para os fãs da matemática, o encontro desta noite em Dortmund, onde o Benfica irá tentar aguentar a magra vantagem que conseguiu na Luz, numa noite miraculosa (é favor agradecer a São Ederson), pode ser visto de várias maneiras… e com desfechos para alegria dos dois lados.
Ora vejamos: historicamente, o Benfica passou 12 das 13 vezes em que venceu por 1-0 na primeira mão de provas europeias. A exceção é a pré-eliminatória com o Anderlecht, em 2004/05 – uma fase que os puristas da competição normalmente nem entendem como pertencendo à mesma. Vendo por esse prisma, na fase “oficial” das competições europeias, as águias têm 100 por cento de aproveitamento após um 1-0 inicial.
Mais: das três ocasiões em que chegaram aos oitavos de final, os encarnados… apuraram-se para a fase seguinte. Aconteceu assim em 2005/06, com Ronald Koeman ao leme; em 2011/12, era Jorge Jesus o treinador; e na época passada, já com Rui Vitória ao comando. Cem por cento de eficácia.
Além disso, só uma equipa alemã conseguiu eliminar o Benfica em provas da UEFA nos últimos 30 anos: o Bayern Munique. Primeiro em 1995/96, numa eliminatória da Taça UEFA dominada por Jurgen Klinsmann (marcou seis dos sete golos do Bayern na eliminatória – 4-1 e 3-1); depois em 2015/16, quando na última temporada afastou os encarnados nos quartos de final da Liga dos Campeões. Daí para cá, Bayer Leverkusen (duas vezes), Nuremberga, Hertha de Berlim e Estugarda já tentaram esse feito; nenhum conseguiu.
Some-se a isto ainda uma análise estatística da UEFA para ver quais as probabilidades de cada uma das equipas em prova de seguir em frente, tendo em conta o passado: foram escrutinados todos os jogos da primeira mão das competições europeias que tiveram resultados iguais aos registados na primeira mão destes oitavos de final. Com base nesta análise, o Benfica tem 59,4 por cento de possibilidades de passar, contra 40,6 do Dortmund.
Confiança alemã no topo
Como dizíamos antes, porém, há sempre dois lados da mesma história. E aqui, o alemão também merece ser realçado: é que uma das piores derrotas europeias dos encarnados sucedeu… precisamente em Dortmund: 5-0 em 1963/64, na segunda ronda da então denominada Taça dos Campeões Europeus. E sim, era o Benfica de Coluna, José Augusto, Simões e tantos outros monstros do futebol português, que ainda na temporada anterior haviam chegado à final da prova pela terceira vez consecutiva…
E o passado do clube alemão nesta fase da competição, não sendo perfeito, também é risonho: das três vezes que marcaram presença nesta ronda, asseguraram a qualificação em duas. Além disso, acrescente-se ainda o facto do Dortmund ter um saldo 100 por cento vitorioso na receção a equipas portuguesas.
Estes números, associados à exibição no Estádio da Luz, onde só pecou a finalização – quo vadis, Aubameyang –, contribuem decisivamente para manter os elementos do Dortmund confiantes. Afinal, estamos a falar da equipa mais concretizadora desta edição da prova (21 golos). “Estamos prontos para seguir em frente. A equipa sabe que é capaz de marcar muitos golos”, realçou ontem o técnico Thomas Tuchel, desvalorizando as críticas ao setor recuado – o Dortmund já soma 39 golos sofridos nos 34 jogos realizados esta temporada: “Se eu fosse treinador do Chelsea, da Juventus ou do Atlético, provavelmente daria uma resposta diferente. Mas quando os projetores se ligarem amanhã [hoje] à noite em Dortmund, e com todas as pessoas a apoiarem-nos, o que importa é atacar.” O aviso está dado.
Cenário diferente, desfecho igual
No reino da águia, porém, a tranquilidade domina. Até porque, segundo Rui Vitória, o Benfica também se pode apresentar a um melhor nível do que mostrou na primeira mão. “Entendemos que fizemos coisas bem feitas e outras que podíamos ter feito melhor. Há um conhecimento mais aprofundado agora. Calculo que amanhã [hoje] haja algumas diferenças na abordagem do jogo. A história não vai ser a mesma, o Borussia vai à procura do que deseja e estamos preparados para isso. Vamos ter as nossas oportunidades e estamos prontos para levar esta eliminatória de vencida”, prometeu o treinador do Benfica.
Além de Vitória, também Samaris compareceu perante os jornalistas para fazer a antevisão do confronto. O grego deverá manter esta noite a titularidade no meio-campo, ao lado de Pizzi, dado que Fejsa não recuperou da lesão e ficou em Lisboa. “Gostaríamos de fazer história, seria bem-vinda, mas o mais importante é passar esta eliminatória e vamos entrar em campo sem pensar no resultado da primeira mão. Sabemos que o Dortmund tem muita qualidade ofensiva, mas estamos preparados para todas as equipas e não temos medo: só respeito”, salientou, antes de deixar também ele um alerta aos alemães: “Na Luz cometemos alguns erros, mas estamos confiantes de que isso não vai acontecer uma segunda vez e que não vamos deixar o Dortmund fazer o jogo que fez em Portugal.”