Um governo sem oposição


O anterior governo tem muitos telhados de vidro e o governo atual não vai hesitar em atirar todas as pedras que forem necessárias


O sucesso do governo da geringonça reside no facto de não ter oposição alguma. O Presidente apoia de tal forma o governo que já se confunde com ele, aparecendo até a manifestar a sua confiança política no ministro das Finanças. A extrema-esquerda foi totalmente domesticada, e mesmo que possa algumas vezes votar desalinhada com o governo, nunca lhe faltará com o seu apoio nos momentos decisivos. Na verdade, agora até passou a aceitar pacificamente que o governo lhe distribua algumas sinecuras. E a oposição de centro-direita parece perdida, a suspirar pelos tempos em que era governo, não conseguindo distanciar-se do tempo passado para enfrentar com eficácia o momento presente.

Esta semana houve um episódio significativo. O governo resolveu responder à inenarrável trapalhada em que o ministro das Finanças se envolveu no caso da CGD com a denúncia da falta de publicação das estatísticas das transferências para offshores por parte do governo anterior. A história tinha quase dois anos e, se a oposição tivesse outros rostos, facilmente a descartaria. Mas como esta oposição mantém os rostos do anterior governo e, pior do que isso, ainda se sente como governo, acusou profundamente o golpe. Em consequência, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais assumiu a “responsabilidade política”, tendo-se por isso demitido, não do cargo governamental que já não tinha, mas de um obscuro cargo partidário que ninguém sabia que desempenhava. Se o ridículo matasse…

Isto é mais um sinal preocupante da estratégia adotada pela oposição de centro-direita. Não apenas são desvalorizadas as eleições autárquicas, que poderiam ser um momento decisivo para enfraquecer o governo atual, como também não surge qualquer iniciativa de oposição consistente, julgando que será a chegada do diabo que lhe devolverá o poder. O problema é que, como se vê agora, o anterior governo tem muitos telhados de vidro e o governo atual não vai hesitar em atirar todas as pedras que forem necessárias. É, por isso, urgente que esta estratégia de oposição seja profundamente alterada.

 

Professor da Faculdade

de Direito de Lisboa

Escreve à terça-feira