Os mergulhos de Marcelo


Porque é que o mergulho de Marcelo na praia de Cascais me incomoda? Não é só o show-off de alguém que precisa de se exibir que me chateia. Isso terá naturalmente uma explicação qualquer, para a qual não sou a pessoa mais indicada. O que me incomoda é a ostentação de Marcelo não ser escrutinada…


Outro seria trucidado. Mas Marcelo, apesar de afilhado de quem é, amigo da casa de Ricardo Salgado, mergulha no mar em plena baía de Cascais e o país sorri porque o Presidente é a garantia de que o país fica como está. A cumplicidade tem destas coisas. O que de outra maneira seria inadmissível é aceite como compensação de que nada muda. 

E a forma complacente como fala com as pessoas, não como um Presidente eleito pelo povo, mas pelo destino. Porque Marcelo acredita nisso: que estava destinado a ser chefe de Estado. Diz--se que é comportamento de rei, algo que estranho num país alegadamente republicano e que elegeu um Presidente. 

Um país que não se importa que Marcelo queira ser popular com afetos e beijinhos para preencher o vazio de poder que surgirá caso a geringonça falhe. A mensagem de ano novo apelando a mais crescimento é um aviso tão fácil e valioso quanto os afetos que distribui. Ele sabe que não há crescimento sem contenção orçamental e que a conseguida foi à custa de artimanhas contabilísticas e do BCE. Para Marcelo está tudo bem, ao mesmo tempo que, prevenindo, se desresponsabiliza. Este Presidente gosta de mergulhar, mas o país não tinha de ir com ele.

 

Advogado 

Escreve à quinta-feira 


Os mergulhos de Marcelo


Porque é que o mergulho de Marcelo na praia de Cascais me incomoda? Não é só o show-off de alguém que precisa de se exibir que me chateia. Isso terá naturalmente uma explicação qualquer, para a qual não sou a pessoa mais indicada. O que me incomoda é a ostentação de Marcelo não ser escrutinada…


Outro seria trucidado. Mas Marcelo, apesar de afilhado de quem é, amigo da casa de Ricardo Salgado, mergulha no mar em plena baía de Cascais e o país sorri porque o Presidente é a garantia de que o país fica como está. A cumplicidade tem destas coisas. O que de outra maneira seria inadmissível é aceite como compensação de que nada muda. 

E a forma complacente como fala com as pessoas, não como um Presidente eleito pelo povo, mas pelo destino. Porque Marcelo acredita nisso: que estava destinado a ser chefe de Estado. Diz--se que é comportamento de rei, algo que estranho num país alegadamente republicano e que elegeu um Presidente. 

Um país que não se importa que Marcelo queira ser popular com afetos e beijinhos para preencher o vazio de poder que surgirá caso a geringonça falhe. A mensagem de ano novo apelando a mais crescimento é um aviso tão fácil e valioso quanto os afetos que distribui. Ele sabe que não há crescimento sem contenção orçamental e que a conseguida foi à custa de artimanhas contabilísticas e do BCE. Para Marcelo está tudo bem, ao mesmo tempo que, prevenindo, se desresponsabiliza. Este Presidente gosta de mergulhar, mas o país não tinha de ir com ele.

 

Advogado 

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