Não será um ano como os outros onde tudo ficará como dantes. Este novo ano é inquestionavelmente o ano de todas as decisões e de todos os desafios. E não ter essa consciência é ser negligente com o futuro e com a Humanidade. 2017 exige, por isso, ação. Ação dos nossos representantes globais na procura de soluções que correspondam às provações dos tempos que se fundam verdadeiramente na proteção das pessoas e não apenas nas relações económicas dos seus Estados cada vez mais de difícil distinção entre promiscuidade e desenvolvimento.
Os desafios que vivemos são enormes e apelam à responsabilidade individual de cada um de nós. À nossa consciência individual sobre o mundo e os outros, mas também à nossa consciência coletiva, no nosso caso particular como europeus, em fazermos frente à insegurança dos nossos povos com a implementação de uma política eficaz de segurança e defesa comum e com respostas claras de intervenção da União no combate ao terrorismo e à criminalidade organizada e à evidente desagregação económica e territorial do nosso espaço comum.
Ainda que a maioria dos líderes europeus insista que o problema da Europa está nas desigualdades insanáveis que a política monetária causou, porque não caminhou de braço dado com uma política económica, a verdade é que o maior desafio da Europa de hoje é a sua sobrevivência como espaço de unidade de valores e fundamentos que servem de base à partilha de liberdades e valores que conduzem a uma harmoniosa heterogeneidade entre os diferentes povos que a compõem. Ou seja, a um espaço diverso, mas unido, aberto, mas seguro.
Vivemos uma espécie de negligência consciente das lideranças europeias. Todos conhecem os perigos, no fundo todos sabem o que têm de fazer para os combater, mas não o fazem pois confiam que o resultado desses perigos não se manifestará.
Nada mais errado. Só em 2016 tivemos 16 incidentes terroristas em solo europeu que vitimaram mortalmente mais de 140 pessoas e feriram mais de 550. E ainda não tínhamos digerido as passas do final do ano nem limpado os confettis do chão quando fomos interrompidos por mais um massacre terrorista numa discoteca em Istambul matando 39 pessoas e ferindo mais de 70.
Não envidar esforços para perceber e combater o fenómeno terrorista que vai, atentado após atentado, pondo a nu a fragilidade e a apatia da União numa política de segurança e defesa comum, que expõe o medo e a incerteza do povo desta grande nação europeia, é não perceber que o cenário europeu de segurança mudou drasticamente.
Reforçar nossa defesa comum é promover a nossa capacidade de projetar estabilidade em áreas e regiões críticas para nossa segurança como também é reforçar a nossa ligação transatlântica assumindo uma maior responsabilidade na partilha dos custos de segurança e defesa, proporcionando à NATO um conjunto de capacidades mais homogéneas e sustentáveis.
É necessária uma nova dimensão de defesa europeia e desenvolve-la significa melhorar a capacidade de operar conjuntamente no âmbito das missões e operações da segurança comum, construir um conjunto credível de capacidades de resposta a estes novos fenómenos de insegurança e assegurar as condições políticas baseadas numa abordagem estratégica partilhada capaz de lidar com os riscos e ameaças que confrontam o nosso território comum.
Guterres apelou a 2017 como “o ano da paz”. Só na Síria morreram em 2016 mais de 40 mil pessoas, 10 mil das quais foram civis adultos e crianças. Os refugiados já ultrapassam no mundo inteiro as 60 milhões de pessoas, no médio oriente mais de 42 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária. As movimentações politicas não nos descansam e o crescimento de partidos neonacionalistas é já uma realidade inquebrável no mundo e na europa em particular. Que Guterres e todos nós tenhamos o engenho e a arte de fazer de 2017 o tal ano da paz.