Num debate parlamentar a deputada Assunção Cristas resolveu oferecer ao primeiro- ministro António Costa uns óculos e um soro da verdade, o que ele agradeceu dizendo que se tinha esquecido de trazer o retrovisor para lhe oferecer. O parlamento transforma-se assim num lugar onde os deputados e o governo brincam às prendas.
Não querendo ficar atrás, António Costa resolver fazer a sua mensagem de Natal num jardim-de-infância do Lumiar, o que foi adequado uma vez que nos contou uma verdadeira história para criancinhas. António Costa quer regressar à célebre paixão pela educação do PS, a tal que atirou Portugal para o pântano com António Guterres, ou que deu lugar à Parque Escolar de Sócrates, com as consequências que se sabe. É assim que proclama que o verdadeiro défice do país é o do conhecimento e que por isso a melhor prenda que se pode oferecer é o conhecimento. Já imaginamos os gastos públicos a que isto vai conduzir, num país onde nascem cada vez menos crianças e de onde a população jovem emigra sem quaisquer perspectivas de futuro.
Portugal tem neste momento a quarta dívida mais elevada do mundo, atingindo 128,4% do PIB e os juros estão a disparar. Apenas o programa de compra de dívida do BCE e a notação da DBRS mantém o país à tona de água. Mas, apesar disso, o governo continua a endividar-se alegremente, cantando vitória sempre que o deixam fazer alguma despesa sem a contabilizar no défice, passando-a directamente para a dívida.
Mas apesar destes gastos públicos crescentes, o crescimento está absolutamente anémico, muito abaixo da média da zona euro, sendo que o governo por razões ideológicas até decidiu aumentar os impostos sobre o imobiliário e o turismo, que eram os únicos sectores que estavam a contribuir para a recuperação económica.
Perante isto tudo, o que o primeiro-ministro apresenta ao país é um discurso infantil num jardim-escola sobre “prendas de conhecimento”, na sequência da sua célebre prenda da vaca voadora. Mas, como a oposição também alinha nesta estratégia política das prendas, o que se verifica é que os portugueses é que são prendados com esta infantilização do discurso político. Poupem-nos a isto.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira
