Sean Rad. “Estou sempre a ser convidado para casamentos de pessoas que se conheceram no Tinder”

Sean Rad. “Estou sempre a ser convidado para casamentos de pessoas que se conheceram no Tinder”


O CEO e criador do Tinder, a aplicação que se diz ter vindo revolucionar a sexualidade, esteve na Web Summit para falar de amor e do desejo de constituir família


Na reta final da campanha para as presidenciais norte-americanas, o entretanto eleito Donald Trump, apanhado numa gravação na qual se gabava de apalpar e beijar mulheres sem o seu consentimento, acabou a dizer que essas afirmações não passaram de “conversa de balneário”. Daquelas em que homens de h pequeno dizem o que bem lhes apetece em relação ao sexo oposto.

Foi justamente por aí que Sean Rad, CEO do Tinder, começou o seu painel na Web Summit. Inevitavelmente abordado pela jornalista da “Cosmopolitan” inglesa Farrah Storr sobre os acontecimentos da noite anterior, Rad não escondeu que tinha votado em Hillary Clinton, mas que, apesar de ter perdido, continua a acreditar na América. Mas nem todo o seu discurso foi igualmente empático. “A conversa de balneário é algo absolutamente inaceitável, no Tinder e na vida real. Por isso, uma das nossas grandes prioridades é eliminar essas conversas da nossa aplicação. Queremos que o Tinder seja um sítio produtivo onde as pessoas possam ter grandes conversas e conversas produtivas”, disse, numa clara alusão ao episódio protagonizado por Trump. Para tal, a equipa do Tinder está a desenvolver mais ferramentas para denunciar conversas inapropriadas.

Mas Sean Rad não subiu ao palco da MEO Arena para falar de política, nem sequer de sexo – o criador do Tinder foi convidado para a Web Summit para falar sobre amor. E, aos 30 anos, revelou-se um verdadeiro romântico. “O que mais desejo é que o Tinder continue a crescer, mas acima tudo desejo ter a minha própria família”, disse, depois de assumir que, antes da atual relação, teve durante muito tempo uma namorada que conheceu através do Tinder.

Foi também na aplicação – onde continua a ter um perfil ativo – que, há três anos e meio, fez match com uma socióloga que acabou por contratar para o gabinete de análise sociológica do Tinder. “Falámos, ela estava a formar-se pela UCLA, e eu gostei tanto do que ela disse que a chamei para uma entrevista e contratei-a. Aliás, com os anos, a aplicação tornou-se uma ferramenta de contratação muito grande para nós.”

Mas claro que não é essa a função primordial do Tinder. No entanto, para Sean Rad, também não é aquela que a maioria das pessoas lhe atribuem. “Queremos que seja muito fácil conhecer pessoas. O que essas pessoas depois fazem, é com elas. Mas há vários estudos sobre como os millennials têm menos sexo do que qualquer outra geração anterior. Tal como outros estudos indicam que mais de 80% dos utilizadores do Tinder estão à procura de relações a longo prazo.”

A própria origem do Tinder tem mais a ver com o lado romântico de Rad do que com revoluções sexuais. “Sou muito tímido e comecei o Tinder porque senti que eu e os meus amigos tínhamos dificuldade em abordar e falar com raparigas. Sobretudo porque uma vez estava num café e havia uma rapariga com quem queria mesmo falar, queria mesmo conhecê-la, e não consegui. Pensei que, se pudesse eliminar a ansiedade que estava a sentir, poderiam acontecer ligações que, de outra forma, não aconteceriam. No fundo, queria uma forma de obter um sinal do outro lado de que não havia problema em abordar essa pessoa.”

No total, desde o seu lançamento, em 2012, já aconteceram 20 mil milhões de ligações entre utilizadores. Destes, Sean Rad diz não saber que número exato resultou em relações longas ou casamentos. “Não temos como saber esses números exatos, mas sabemos que há um número significativo de casamentos com origem no Tinder. Todos os dias recebo mensagens de pessoas a dizer que conheceram o amor da sua vida na app. Estou sempre a ser convidado para casamentos de pessoas que se conheceram através do Tinder.”

E para os que continuam à procura, Sean Rad deixou conselhos práticos: “Sejam honestos nos vossos perfis, expressem quem são realmente. As fotos de modelos soam a falsas e não atraem as pessoas. Preencham pormenores sobre vocês, como a vossa música favorita, porque a música continua a ser algo que nos aproxima. Quanto mais preencherem o vosso perfil, mais matches vão ter.” Mas depois há que não esquecer o passo seguinte, que a vida não acontece numa aplicação. “Agora, o grande desafio para nós é que as pessoas se conheçam pessoalmente. Quero viver num mundo em que as pessoas se conhecem. A missão do Tinder é criar relações reais, para que as pessoas saiam para fora da app.”