Regresso. Sócrates lança livro em outubro e recusa ser rival de Costa

Regresso. Sócrates lança livro em outubro e recusa ser rival de Costa


Apesar das críticas à direção do PS, os próximos de José Sócrates asseguram que apoia o governo de Costa e recusam, pelo menos no curto prazo, um futuro político para o ex-primeiro- -ministro


É em outubro que José Sócrates vai apresentar o seu livro sobre teoria política. Os mais próximos garantem que esse é agora o seu principal objetivo e o motivo maior para as intervenções públicas que tem feito.
Apesar dos recados e críticas que fez no almoço de apoiantes que organizou no sábado, Sócrates não quer enfrentar António Costa. Isso é, aliás, o que garante André Figueiredo, um dos mais próximos do ex-líder do PS. “José Sócrates nunca iria fazer qualquer coisa que pusesse em causa o governo ou o atual secretário-geral do PS. O apoio de Sócrates ao governo é inequívoco e ele não embarcaria em qualquer iniciativa que o ferisse. Já, agora, eu também não”, frisa ao i André Figueiredo.
A garantia fica dada, mas é indisfarçável o incómodo que causou em Sócrates a forma como António Costa se tem posto à margem do processo de que é alvo, evitando, desde o primeiro minuto, uma colagem do partido à defesa do ex-primeiro-ministro. As próprias palavras de Sócrates no fim de semana atestam esse mal-estar: “Muitos quiseram afastar-me. Detemos-te, pomos-te na prisão, não dás entrevistas. O primeiro objetivo era isolar-me da sociedade portuguesa. Porventura conseguiram esse objetivo com a direção do PS, mas quero dizer-vos que não conseguiram afastar-me do coração dos militantes”, avisou, dando sinais da força que ainda tem no partido.
Para reforçar o apoio que tem sentido junto dos socialistas, citou os aplausos e os gritos de “PS, PS” com que foi recebido na sexta-feira na Universidade de Verão do partido, mas também a forma como tem sido recebido nas várias iniciativas que nos últimos meses o têm feito correr o país.

PESO POLÍTICO O apoio dá-lhe o peso político que quer garantir continuar a ter, mas no núcleo duro que o rodeia assegura-se que esse capital não será para usar para um regresso à vida política ativa, pelo menos para já. Sócrates não quer ser visto como alguém que se apresenta para desafiar António Costa, um líder popular, que está no governo e até tem feito o PS subir nas sondagens.
“Com o PS no governo que estratégia política podia estar agora em causa?”, questiona uma fonte próxima do ex-primeiro-ministro referindo-se ao imediato, mas evitando especulações sobre o futuro de longo prazo de Sócrates.
No curto prazo, estará, dizem os mais próximos, apenas a promoção do seu livro. O i sabe, aliás, que o prato principal do jantar da passada quarta-feira com o núcleo duro de Sócrates foi precisamente o livro que está pronto a ser publicado e que o ex-primeiro-ministro anunciou no almoço público de sábado.
Não será, porém, já este o livro em que José Sócrates fará a sua defesa. “Queria sossegar-vos quanto a uma coisa: nem é um livro de mexericos nem é um livro de um paranoico. É um livro que pretende ser de teoria política. Pus de lado tudo o que escrevi sobre este processo. Não é o momento, mas lá chegará”, disse o ex-secretário-geral do PS.
Mais académico, o livro deverá ser sobre filosofia política. Mas ajudará ao propósito pelo qual Sócrates se tem batido desde o primeiro minuto: o de mostrar que mantém “intactos” os seus direitos cívicos e políticos. “Não vou admitir que façam o banimento da vida pública querendo fazer essa condenação sem julgamento”, lançou.
Para provar que está longe de ficar fora do jogo político aproveitou até a presença na Universidade de Verão do PS na sexta-feira para partilhar uma visão crítica sobre a lei de acesso a dados fiscais.
António Costa respondeu, assegurando respeitar “muito a liberdade crítica” e até frisou que Sócrates não está sozinho nas dúvidas a uma lei que o primeiro-ministro defende ser feita em defesa da justiça fiscal.

COSTA MANTÉM DISTÂNCIA O que Costa continua a não querer é ficar na fotografia ao lado de Sócrates. Evitou-o na inauguração do Túnel do Marão e não foi sequer convidado para a Universidade de Verão do PS para que nem a aceitação nem a recusa do convite pudessem ter leituras. Este fim de semana, voltou a distanciar-se.
“O Partido Socialista há muito tempo que definiu uma regra que é não confundir o processo judicial que diz respeito ao engenheiro José Sócrates daquilo que é a atividade política normal do partido”, frisou em reação às palavras do ex-primeiro-ministro.

PS DIVIDIDO No PS, Ana Gomes acabou por ser a única a assumir frontalmente o incómodo pelo regresso de José Sócrates a atividades partidárias. “Sei que sou uma voz isolada, mas não me importo”, disse ao “DN” a eurodeputada, que acha que Sócrates “está a sequestrar e a manipular o partido” e que diz ser “chocante” a forma como não há mais “vozes morais no PS” a levantar-se contra isso.
As palavras de Ana Gomes foram consideradas “repugnantes” por José Sócrates que as considerou uma forma de fazer uma “condenação sem julgamento”. E José Lello, socialista próximo de Sócrates, usou o Facebook para criticar a atitude da eurodeputada. “A presença de Ana Gomes nas iniciativas ou no discurso público do PS causa incómodo e divide normalmente o PS”, escreveu.
Na direção do PS a posição tem sido, de resto, a de atribuir normalidade ao regresso de Sócrates à vida partidária, recusando, porém, qualquer aproximação ao ex-líder. “É normal e natural que um ex-secretário-geral do PS seja convidado para iniciativas do PS”, frisou a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, lembrando que Sócrates tinha sido também convidado para o aniversário do partido na sede do Largo do Rato.
Porfírio Silva, outro dirigente do PS, considerou também “normal” o convite da FAUL a Sócrates. E só Susana Amador, que convidou Sócrates para a Universidade de Verão, acabou por “lamentar a polémica” causada em torno da presença de Sócrates no evento que promoveu.
“ José Sócrates nunca iria fazer qualquer coisa que pusesse em causa o governo ou o atual secretário-geral do PS. O apoio de Sócrates ao governo é inequívoco e ele não embarcaria em qualquer iniciativa que o ferisse. Já, agora, eu também não”