O país das confusões (1)


Da banca, ao olimpismo passando pela política, já há de tudo um pouco agora que agosto chega ao fim. 


1) Há que acompanhar com muita atenção o que se está passar na banca. Como não temos cá banqueiros simultaneamente ricos e de qualidade, o mais certo é estarmos perto de assistir a uma tomada de controlo do BPI pelo La Caixa espanhol, seguindo-se uma investida desse grupo reformulado sobre o Novo Banco que pouco vale. Pode repetir-se o que aconteceu ao BPN, comprado (e bem,  como negócio) pelo BIC de Mira Amaral. Aliás, talvez não seja pior ter uma banca gerida a partir de Espanha mas que apresente resultados, em lugar do verdadeiro Titanic financeiro que nos toca. Veja-se o Santander-Totta.

2) A confusão na Caixa Geral é total. A culpa vai morrer solteira e para já só Félix Mourinho apareceu a dar a cara pela catástrofe, sem, todavia, assumir toda a responsabilidade. Mas quem pode acreditar que o jovem secretário de estado aparentado ao “special one” tenha criado a confusão sozinho? E o primeiro-ministro não soube nada? E o titular das Finanças não avalizou? Como já aqui se disse várias vezes, faz falta um número dois no governo, sábio e sensato, que chame a si matérias delicadas, a fim de ajudar António Costa que delega mal e sem parar para refletir. Alguém que seja para Costa o que Nogueira foi para Cavaco. 

3) Na semana passada abordou-se aqui a hipótese de remodelação do governo, tão necessária quanto impossível uma vez que a equipa é recente. O tema foi retomado em comentário televisivo dominical e em jornais. Voltando à questão e para aprofundar as razões de Costa estar manietado nesse campo, é importante explicar que ele optou na prática por ter o seu número dois fora do governo na pessoa de Carlos César. Simplesmente acontece que a estratégia não está a resultar, sobretudo quando o parlamento está parado. Para remodelar e corrigir o problema estrutural do governo, a janela de oportunidade será a seguir à aprovação do orçamento. 

4) Paulo Portas continua a pôr e dispor do CDS-PP. Foi triunfal ao congresso do MPLA contra o qual vociferava no Independente. Arrastou Hélder Amaral para declarações em que este praticamente proclamou que CDS e MPLA estão agora geminados. Os críticos reagiram e até Manuel Monteiro ressuscitou. A coisa amainou, mas Cristas ficou mal na fotografia. Já Portas surfou a onda. Até se deu ao luxo de falar às televisões em patriotismo empresarial, quando dias antes tinha assinado contrato com uma petrolífera estatal mexicana. Um mimo! Se não se impuser no partido e na sociedade, Cristas corre o risco de o CDS ficar ainda mais dependente do óbolo do PSD para sobreviver. Aos sociais-democratas o CDS já deve a expressão da sua atual representação parlamentar. Manter esta subordinação seria um mau para a direita, uma vez que o PSD tem de crescer no centro-esquerda para ter hipóteses de voltar a governar sozinho ou em coligação de direita. Já para uma solução governativa de centro-esquerda o PSD teria necessariamente de mudar de líder, o mesmo sucedendo ao PS.

5) Está por se saber se Correia de Campos volta a apresentar-se no parlamento para tentar ser eleito presidente do Conselho Económico Social. O bom senso mandaria que declinasse a hipótese depois da humilhação pela qual passou. Mas há vaidades que ignoram a razão. O mais curioso é que o PS acusou logo o PSD de ter boicotado o acordo na votação secreta. Mas exatamente por ser secreta não se pode excluir que setores do próprio PS tenham negado o voto a Correia de Campos por não esquecerem os ataques que fez ao Serviço Nacional de Saúde quando foi ministro. 

6) Falta um mês para que os milhares de desempregados que estão sujeitos a um TIR (termo de identidade e residência) sejam amnistiados dessa pena, na sequência de louvável iniciativa bloquista. Falta também saber se Vieira da Silva (o inventor desta tortura fiscalizadora no tempo de Sócrates) vai apresentar a tempo alguma alternativa à medida. Seria aconselhável que nada fizesse em cima do joelho.para não arranjar mais problemas do que aqueles que tem criado sempre que mexe em qualquer coisa. Veja-se o caso absurdo de desviar dinheiro das pensões para construir casas para alugar barato. Se fosse para alugar caro e rentabilizar percebia-se, mas assim… Esta semana soube-se, entretanto, de mais problemas graves no IEFP, que vão de situações de extorsão a estagiários profissionais por certos empresários, até aos saneamentos que ocorrem sempre que muda o governo. Vieira da Silva está, inesperadamente, a tornar-se mais um ministro problema.

7) O ministério da justiça vai substituir diretores de cadeias, sendo que alguns são os das unidades onde presos organizaram verdadeiras “raves”. Num esclarecimento, informava-se que a medida se enquadra numa rotação já prevista. É lamentável! Esperava-se o contrário, ou seja, que algumas mudanças decorressem precisamente do que se passou.

8) A representação olímpica nacional não atingiu os patamares “medalhísticos” propagandeados. A verdade, porém, é que os atletas estiveram na generalidade bastante bem. Mal esteve a comunicação social que tinha obrigação de não embarcar em triunfalismos prematuros e de ter investigado se as condições de treino dos nossos representantes sustentavam todo o otimismo proclamado quanto pódios. 

Jornalista


O país das confusões (1)


Da banca, ao olimpismo passando pela política, já há de tudo um pouco agora que agosto chega ao fim. 


1) Há que acompanhar com muita atenção o que se está passar na banca. Como não temos cá banqueiros simultaneamente ricos e de qualidade, o mais certo é estarmos perto de assistir a uma tomada de controlo do BPI pelo La Caixa espanhol, seguindo-se uma investida desse grupo reformulado sobre o Novo Banco que pouco vale. Pode repetir-se o que aconteceu ao BPN, comprado (e bem,  como negócio) pelo BIC de Mira Amaral. Aliás, talvez não seja pior ter uma banca gerida a partir de Espanha mas que apresente resultados, em lugar do verdadeiro Titanic financeiro que nos toca. Veja-se o Santander-Totta.

2) A confusão na Caixa Geral é total. A culpa vai morrer solteira e para já só Félix Mourinho apareceu a dar a cara pela catástrofe, sem, todavia, assumir toda a responsabilidade. Mas quem pode acreditar que o jovem secretário de estado aparentado ao “special one” tenha criado a confusão sozinho? E o primeiro-ministro não soube nada? E o titular das Finanças não avalizou? Como já aqui se disse várias vezes, faz falta um número dois no governo, sábio e sensato, que chame a si matérias delicadas, a fim de ajudar António Costa que delega mal e sem parar para refletir. Alguém que seja para Costa o que Nogueira foi para Cavaco. 

3) Na semana passada abordou-se aqui a hipótese de remodelação do governo, tão necessária quanto impossível uma vez que a equipa é recente. O tema foi retomado em comentário televisivo dominical e em jornais. Voltando à questão e para aprofundar as razões de Costa estar manietado nesse campo, é importante explicar que ele optou na prática por ter o seu número dois fora do governo na pessoa de Carlos César. Simplesmente acontece que a estratégia não está a resultar, sobretudo quando o parlamento está parado. Para remodelar e corrigir o problema estrutural do governo, a janela de oportunidade será a seguir à aprovação do orçamento. 

4) Paulo Portas continua a pôr e dispor do CDS-PP. Foi triunfal ao congresso do MPLA contra o qual vociferava no Independente. Arrastou Hélder Amaral para declarações em que este praticamente proclamou que CDS e MPLA estão agora geminados. Os críticos reagiram e até Manuel Monteiro ressuscitou. A coisa amainou, mas Cristas ficou mal na fotografia. Já Portas surfou a onda. Até se deu ao luxo de falar às televisões em patriotismo empresarial, quando dias antes tinha assinado contrato com uma petrolífera estatal mexicana. Um mimo! Se não se impuser no partido e na sociedade, Cristas corre o risco de o CDS ficar ainda mais dependente do óbolo do PSD para sobreviver. Aos sociais-democratas o CDS já deve a expressão da sua atual representação parlamentar. Manter esta subordinação seria um mau para a direita, uma vez que o PSD tem de crescer no centro-esquerda para ter hipóteses de voltar a governar sozinho ou em coligação de direita. Já para uma solução governativa de centro-esquerda o PSD teria necessariamente de mudar de líder, o mesmo sucedendo ao PS.

5) Está por se saber se Correia de Campos volta a apresentar-se no parlamento para tentar ser eleito presidente do Conselho Económico Social. O bom senso mandaria que declinasse a hipótese depois da humilhação pela qual passou. Mas há vaidades que ignoram a razão. O mais curioso é que o PS acusou logo o PSD de ter boicotado o acordo na votação secreta. Mas exatamente por ser secreta não se pode excluir que setores do próprio PS tenham negado o voto a Correia de Campos por não esquecerem os ataques que fez ao Serviço Nacional de Saúde quando foi ministro. 

6) Falta um mês para que os milhares de desempregados que estão sujeitos a um TIR (termo de identidade e residência) sejam amnistiados dessa pena, na sequência de louvável iniciativa bloquista. Falta também saber se Vieira da Silva (o inventor desta tortura fiscalizadora no tempo de Sócrates) vai apresentar a tempo alguma alternativa à medida. Seria aconselhável que nada fizesse em cima do joelho.para não arranjar mais problemas do que aqueles que tem criado sempre que mexe em qualquer coisa. Veja-se o caso absurdo de desviar dinheiro das pensões para construir casas para alugar barato. Se fosse para alugar caro e rentabilizar percebia-se, mas assim… Esta semana soube-se, entretanto, de mais problemas graves no IEFP, que vão de situações de extorsão a estagiários profissionais por certos empresários, até aos saneamentos que ocorrem sempre que muda o governo. Vieira da Silva está, inesperadamente, a tornar-se mais um ministro problema.

7) O ministério da justiça vai substituir diretores de cadeias, sendo que alguns são os das unidades onde presos organizaram verdadeiras “raves”. Num esclarecimento, informava-se que a medida se enquadra numa rotação já prevista. É lamentável! Esperava-se o contrário, ou seja, que algumas mudanças decorressem precisamente do que se passou.

8) A representação olímpica nacional não atingiu os patamares “medalhísticos” propagandeados. A verdade, porém, é que os atletas estiveram na generalidade bastante bem. Mal esteve a comunicação social que tinha obrigação de não embarcar em triunfalismos prematuros e de ter investigado se as condições de treino dos nossos representantes sustentavam todo o otimismo proclamado quanto pódios. 

Jornalista