Durante dois longos anos, os residentes na cidade de Manbij, no norte da Síria, viveram forçados sob a leis do Estado Islâmico (EI). Sábado, após uma ofensiva iniciada a 31 de maio em que morreram, desde o seu começo, mais de 400 civis, foi o dia que em tudo acabou.
Fumar, cortar a barba e queimar as burcas foi a forma que aqueles sírios encontraram para celebrar a vitória das Forças Democráticas Sírias sobre o terror do EI. Eram novamente livres. Tal como nós. Livres para a satisfação de direitos tão básicos como fazer desporto ou simplesmente ouvir música. Ações que, aos olhos do Daesh/EI, lhes podiam valer, como valeram a tantos, a morte por decapitação, sendo as cabeças afixadas numa pequena praça central para servir de exemplo.
Os terroristas abandonaram esta importante cidade que servia de ponte para a Turquia e era considerada um albergue importante de recrutas fundamentalistas, muitos deles oriundos da nossa Europa.
A celebração da liberdade é, inquestionavelmente, a maior das celebrações. É para nós, ocidentais, inimaginável subsistir nestas cruéis circunstâncias. Mas na verdade apenas partilhamos esta felicidade à distância. Nunca quisemos verdadeiramente saber de quem sofre diariamente a crueldade do EI. Os sírios, tal como os iemenitas, os iraquianos ou os bengaleses, estão longe. E nós, no nosso irrepreensível egoísmo, longe deles queremos ficar. Por eles somos “Je suis coisa nenhuma”.
As celebrações destes sírios devem servir para que possamos entender que, dentro das nossas diferenças, somos, de facto, todos iguais. E que a vida de uma criança lisboeta, londrina ou parisiense vale tanto como a de uma síria. Só nesta cidade morreram às mãos da intolerância mais de 100. Sábado voltaram a ser livres.