O jogo terminou e as nuvens tomaram conta de Belo Horizonte. Cercaram Paulo Bento e o treinador percebeu que a derrota, por 2-1 em casa ante o Recife, a terceira consecutiva, traçavam a negro (como as nuvens) o seu destino no Cruzeiro. Umas horas depois tinha deixado a toca da raposa, demitido ao fim de 17 jogos e com o clube no penúltimo lugar do Brasileirão.
Os assobios dos adeptos não ajudaram a vida de Paulo Bento na experiência no Brasil, a paciência depressa se esgotou com as poucas vitórias – apenas seis -, alguns empates (três) e muitas derrotas – oito. Pior: a derrota com o Sport Recife foi o quinto encontro consecutivo do Cruzeiro sem vitórias no campeonato, e apenas uma vitória em casa para o conjunto mineiro. Os dois golos do avançado Rogério precipitaram o fim da segunda experiência do técnico português à frente de um clube, depois da passagem pelo Sporting (2005-2009). Chegou ao Brasil depois de ter estado à frente da seleção de Portugal entre 2010-2014 e a ligação entre os dois países, como se pode ver, foi pouco produtiva.
“Seria legal se o Paulo Bento voltasse para Portugal”. Mesmo depois do triunfo sobre o Vitória e a qualificação para os oitavos de final da Copa do Brasil, a música foi entoada pelos adeptos do Cruzeiro que se deslocaram ao Mineirão na quarta-feira. No domingo, e apesar de o treinador ter dito que não perderia o sono, perdeu o lugar. Os adeptos não deram tréguas ao português e chegaram a invadir uma sessão de treino na Toca da Raposa, o centro de estágio da equipa.
“A vida do treinador é feita de críticas, não é algo que me preocupe. Não deixarei de dormir hoje e nem amanhã também. Faz parte do meu trabalho receber críticas.” Não foi suficiente. O Cruzeiro comunicou a saída do técnico ontem, depois de uma reunião da direção – e contou com a presença do presidente Gilvan de Pinho Tavares do diretor Thiago Scuro e do vice Bruno Vicintin – durante a manhã em que ficou decidida a saída do treinador e da restante equipa técnica composta por quatro elementos.
A indemnização de Bento vai ser agora negociada. Se as duas partes não chegarem a acordo, o treinador fica a receber o salário até assinar contrato com outro clube. Se não encontrar trabalho, o Cruzeiro pagará o ordenado até 2017. Mano Menezes é o favorito para substituir o português, que no final do jogo deixou insinuações no ar em relação aos seus jogadores.
“Pela qualidade que demonstramos, pelo volume e controle de jogo que tivemos, houve muito pouca eficácia. Não é normal ter 29 finalizações, ter oportunidades claras de fazer golo e não ser eficiente nesses momentos do jogo”, queixou-se. Bento ainda abriu a porta a continuar no clube -“Creio que podemos dar a volta por cima. É óbvio que a situação na tabela não é boa, incomoda” -, mas a direção preferiu virar-se para Menezes, o treinador que saiu há um ano do Cruzeiro para a China mas cuja vida também não correu bem em terras orientais.