Portugal sempre teve jogadores extraordinários, mas infelizmente nunca conseguiu ir muito longe nos campeonatos internacionais. A razão é que apostava especialmente nos rasgos individuais dos jogadores, em lugar de apostar no coletivo. Ora, a verdade é que os grandes talentos podem brilhar nalguns jogos, mas não chegam para ganhar campeonatos.
É curioso que Portugal tenha sempre perdido nas meias-finais com as seleções anfitriãs do campeonato. Foi assim que mesmo com Eusébio, Coluna e Torres não conseguimos ganhar à Inglaterra em 1966 e, apesar de Chalana, Jordão e Nené, a França, a jogar em casa, eliminou–nos em 1984. Em 2004 éramos nós que jogávamos em casa e tínhamos jogadores extraordinários como Figo, João Pinto, Rui Costa e o jovem Cristiano Ronaldo, o que nos permitiu chegar à final. Mas na final fomos surpreendidos por uma barreira eficaz da Grécia que permitiu que fosse ela a levar o troféu para casa.
Em 2016. a seleção portuguesa não se apresentou com grandes valores individuais. Cristiano Ronaldo, salvo no jogo com a Hungria, pareceu sempre pouco inspirado, pese embora a sua extraordinária motivação. Renato Sanches é manifestamente uma promessa, mas ainda está muito verde. E os restantes jogadores tiveram exibições regulares, só tendo Pepe e Rui Patrício aparecido a um nível superior. Por esse motivo, na fase de grupos, Portugal empatou os três jogos, tendo começado apenas a melhorar sucessivamente na fase das eliminatórias.
Apesar disso, Portugal ganhou o Europeu com uma equipa que ninguém vaticinava que iria longe. Ninguém exceto o selecionador Fernando Santos. Logo a 19 de junho, perante as críticas ao desempenho da seleção, Fernando Santos informou que avisara a família de que só regressaria no dia 11 de julho e seria recebido em festa. Na altura, toda a gente considerou ridículas essas afirmações, mas o selecionador nacional cumpriu o prometido. Mostrou que conhecia a equipa que tinha, sabia os adversários que iria enfrentar e dominava o terreno que pisava. E como escreveu Sun-Tzu em “A Arte da Guerra”, “aquele que conhece o inimigo e se conhece a si próprio, ainda que trave cem batalhas, nunca será derrotado”. O resto do país tem muito que aprender com o selecionador nacional.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira