A resposta dos meios de socorro ao acidente que fez três vítimas mortais e outros quatro feridos (um deles grave), esta segunda-feira, na base aérea do Montijo, poderá não ter sido a mais eficaz. O sistema de alarme da base aérea – que dá indicações aos meios de socorro sobre o tipo de acidente em causa e que deve ser sempre acionado em situações como as desta semana – não foi acionado. Força Aérea garante resposta adequada.
Os militares que estavam de serviço na base só se aperceberam do acidente quando viram o fumo negro sobre a pista da base e os primeiros carros de bombeiros a passar em direção ao C-130, que ardia com intensidade. Até esse momento, quando passavam poucos minutos das 12 horas e grande parte do pessoal da base se preparava para almoçar, tudo decorria com a habitual normalidade.
O facto de estarem na messe àquela hora levou vários militares a suspeitar que o problema seria esse mesmo: apesar de ser “bastante audível e inconfundível” com outros ruídos, o som do alarme não chegaria nas devidas condições àquela zona da base.
Nos dias seguintes perceberam que o problema tinha sido mais grave no que diz respeito ao acidente com o C-130. Em vários pontos da base, os comentários iam todos no mesmo sentido: ninguém tinha sido alertado para a ocorrência do acidente – sem precedentes na Força Aérea – pelos sistemas de alerta da Base Aérea 6, no Montijo.
Ao i, a Força Aérea não comenta esta situação. Questionada sobre a falta de sinalização do acidente, fonte da FA refere apenas que “os serviços de socorro reagiram dentro do tempo que está planeado e previsto para estas situações” e que “rapidamente se percebeu que era necessário apoio externo, que foi acionado junto da Proteção Civil”.
Resposta ineficaz A duração e o tipo de som produzido pelo sistema interno de alarme da base aérea do Montijo transmitem aos meios de socorro as primeiras informações sobre que problemas acabam de ocorrer – um acidente com aeronave ou um acidente com um veículo militar, por exemplo. Também dão indicações sobre se se trata de um exercício de treino ou de uma situação real.
O facto de o alarme não ter sido acionado esta segunda-feira poderá ter comprometido a atuação dos meios de socorro da base.
A primeira resposta foi dada, como é habitual, pelos militares que asseguram o serviço de combate a incêndios da base (altamente especializados nestas funções). Também os serviços de socorro médico acorreram à pista onde a aeronave estava imobilizada. Mas uma fonte militar da base refere ao i que os serviços operacionais, responsáveis por coordenar as operações de socorro, careciam de indicações precisas sobre o que tinha acabado de acontecer.
Os meios externos foram acionados às 12h20 e, ao final da tarde de segunda-feira, tinham sido mobilizados para a base 49 operacionais e 16 veículos de apoio, segundo dados disponibilizados pela Proteção Civil.
O avião acabou por ficar completamente destruído na pista, depois de ter sido consumido pelas chamas. Do interior da carcaça foram retirados os corpos das três vítimas mortais: um tenente-coronel, um capitão e um sargento-ajudante, todos com idades entre os cerca de 30 e os 50 anos.
Um quarto militar acabou ferido com gravidade, com queimaduras na quase totalidade do corpo. Os outros três ocupantes do C-130 escaparam com ferimentos mais ligeiros. Foram todos encaminhados para o Hospital de São José, em Lisboa.
O acidente aconteceu quando a aeronave efetuava uma operação de touch and go (tocar e levantar). Depois de um primeiro ensaio, o piloto preparava-se para voltar a levantar voo quando os motores tiveram uma falha.
O trem principal não chegou a sair do chão e o incêndio deflagrou de imediato.
Ferido grave internado Dos três feridos que resultaram do acidente, apenas o militar com ferimentos mais graves (com queimaduras em grande parte do corpo) continua internado. Está “estabilizado”, mas ainda com “prognóstico reservado”.
Os três feridos ligeiros, que também conseguiram sair do avião, tiveram alta ainda na tarde de terça-feira, de acordo com um comunicado disponibilizado ontem pela FA.
Segundo o i apurou, os corpos dos três militares que perderam a vida no acidente já foram autopsiados. Os funerais devem realizar-se nos próximos dias, mas ainda não têm data marcada.
No mesmo comunicado, a FA refere que “da parte da tripulação, não houve reporte de qualquer situação de emergência” e que “os quatro militares que conseguiram sair da aeronave após a sua imobilização fizeram-no pelos seus próprios meios, não tendo, em qualquer momento, regressado ao avião” – posição que contradiz a tese de que dois dos militares mortos teriam voltado a entrar no avião para resgatar um dos elementos envolvidos no acidente.