Escrevo sem saber o resultado do jogo de ontem. Mas independentemente do que aconteceu, os portugueses já tinham um grande motivo para festejar, mesmo antes da final. Temos um português, o melhor português de todos os tempos, a liderar não executivamente o maior banco de investimentos do mundo: o nosso querido Dr. Durão Barroso.
Estou certo de que, se Portugal ganhou o jogo de ontem, as ruas encheram-se de pessoas a festejar. Estou também certo de que, em caso de derrota, as ruas se encheram de pessoas a festejar. A maior parte das pessoas têm uma mentalidade perdedora e só querem motivos para festejar: até derrotas. Patético.
Curiosamente, o Dr. Durão Barroso anunciou que ia ser o próximo chairman da Goldman Sachs e nem uma buzina ouvi na rua. É muito triste. Temos um português a dar cartas lá fora e a deixar-nos orgulhosos e, em vez de o celebrarmos pendurando bandeiras do PSD à janela, ainda o criticamos. É por isso que somos um país tão pequenino.
Aquilo que grandes homens como o Dr. Cristiano Ronaldo, o Dr. Durão Barroso e eu temos em comum é que estamos destinados a ser o alvo da inveja e do escárnio dos medíocres. Em vez de nos usarem como inspiração para tentarem chegar ao nosso nível de excelência, os medíocres preferem insultar-nos e atacar-nos a partir do lugar confortável de quem nunca fez nada na vida. Se eu, o Dr. Cristiano Ronaldo e o Dr. Durão Barroso somos os melhores nas nossas áreas é porque trabalhamos e lutamos sempre, independentemente daquilo que os outros pensam.
É claro que, dos três, o Dr. Cristiano Ronaldo é aquele que tem a vida mais facilitada. Nasceu com bons genes e, convenhamos, dar pontapés numa bola não é a mesma coisa do que presidir exemplarmente à Comissão Europeia ou escrever artigos brilhantes no jornal i. Curiosamente, as pessoas preferem idolatrar mais um jogador de bola, que é excelente, em vez de idolatrarem dois grandes pensadores políticos. Prioridades trocadas, na minha opinião.
Isto é particularmente injusto no caso do Dr. Durão Barroso. Em vez de celebrarem o sucesso dele, as pessoas preferem chamar-lhe “Zé Lesma”, “chulo”, “cagão manhoso”, “chorão baboso”, “furão poroso”, etc. A inveja é muito feia. É certo que a falta de carisma dele não ajuda. Ele não é propriamente aquela pessoa apelativa com quem apetece estar aninhado no sofá a ver uma temporada de “Game Of Thrones”, mas isso não o impediu de ter sido o melhor presidente da Comissão Europeia que podíamos ter tido. Muitos líderes acusam-no, em privado e em autobiografias, de ser mole e pouco inteligente. O que eles não percebem é que essas são as suas maiores qualidades. Os países mais poderosos não querem um líder carismático e com a mania do protagonismo em frente da UE. Querem um banana que se deixe manobrar para eles poderem governar à vontade. Eu não estou a dizer que o Dr. Durão Barroso é um banana que se deixa manobrar, o que estou a dizer é que o Dr. Durão Barroso sabia que, para cumprir bem a missão que esperavam dele, tinha de ser banana e deixar--se manobrar. Ele é um polvo que consegue moldar-se mediante o recipiente onde vai ser inserido. Um político moderno não pode ser inflexível, tem de ser como um bocado de plasticina, adaptável às circunstâncias. Sendo este o requisito essencial para um líder moderno, o Dr. Durão Barroso é como um Dr. Winston Churchill na arte de se moldar e estou certo de que é uma grande aquisição para a Goldman Sachs.
Nós, portugueses, ganhámos muito com o sucesso do Dr. Durão Barroso. É normal que tenhamos tido um acesso de ciúmes quando o Dr. Durão Barroso deixou de ser o nosso Dr. Durão Barroso para se tornar no Dr. Durão Barroso de todos os europeus. Mas já é altura de superarmos esse trauma. Se Portugal ganhou ontem, celebrem a vitória de Portugal no futebol e a vitória do Dr. Durão Barroso. Se Portugal perdeu, celebrem apenas a vitória do Dr. Durão Barroso porque é muito mais significativa do que qualquer vitória num torneio de futebol.