Sempre tive uma relação complicada com o ex-Dr. Relvas. Inclusivamente, posso revelar que fui o seu maior opositor dentro do Governo PSD/CDS. O ex-Dr. Relvas tinha a mania do protagonismo e queria estar sempre nas notícias, desviando as atenções de todo o bom trabalho que estávamos a de-senvolver em prol do país. Tinha tanta ânsia de holofotes que resolveu lançar o boato sobre a sua licenciatura só para aparecer nos jornais. O comportamento que ele tinha com os jornalistas era gravíssimo. Que necessidade é que ele tinha de apertar com os jornalistas do “Público”? Só mesmo para aparecer. Toda a gente sabe que eles estão do nosso lado. Um dia cansei-me de tudo isto e, na minha qualidade de assessor do Secretário de Estado, ordenei-lhe que saísse imediatamente do Governo. Ele começou a chorar e ameaçou-me de que ia revelar publicamente o meu maior segredo, uma situação lamentável relacionada com um alegado caso de autossatisfação sexual interrompida pelo Dr. José Eduardo dos Santos durante uma visita de Estado que pode ou não ter acontecido. Mas não reagi à provocação. Limitei-me a comunicar ao Dr. Passos Coelho que era eu ou ele no Governo. E foi o princípio do fim do ex-Dr. Relvas como Ministro. Para bem do nosso Governo e do País. Ainda hoje o Dr. Passos Coelho me agradece este ultimato, não só por ter salvado o Governo, mas por ter rompido com aquela amizade tóxica dele com o ex-Dr. Relvas.
No entanto, apesar de ter sido o responsável pelo afastamento do ex-Dr. Relvas do Governo, não posso deixar de me sentir solidário com ele neste momento difícil. Portugal não se pode dar ao luxo de perder mais um licenciado, seja para a emigração seja para o Tribunal Constitucional. Já estamos na cauda da Europa em número de licenciados; se prosseguirmos com este genocídio académico, é lógico que tenhamos de retirar o título a todos os licenciados em Antropologia e Sociologia. Até podem ser licenciaturas mas, na prática, não servem para nada. Para se ser caixa de supermercado não é necessário o título de Doutor.
Além disso, precisamos das nossas mentes mais brilhantes nas suas melhores condições. O ex-Dr. Miguel Relvas é um excelente profissional mas, se lhe tirarem o título, que motivação é que ele tem para trabalhar? Vai passar a comportar-se como qualquer badameco sem licenciatura. E o ex-Dr. Relvas vale muito mais do que isso.
Acusam o ex-Dr. Relvas de ter forjado a sua licenciatura. O problema, aqui, não é ele ter forjado a licenciatura. O problema é ele ter-se visto obrigado a forjar uma licenciatura. Se o país fosse justo e vivesse sob a égide da meritocracia, a licenciatura devia ter–lhe sido oferecida no dia em que começou a exercer as suas funções de Secretário de Estado da Administração Local. Se existem doutoramentos honoris causa para pessoas que nem sequer acabaram a 4.a classe, como o Prof. Dr. Lula, por que razão não existem licenciaturas honoris causa para pessoas que já provaram as suas competências on the job?
O Dr. Passos Coelho teve de interromper a sua fulgurante carreira a produzir riqueza para o país, na Tecnoforma, para passar pelo vexame de andar na universidade até aos 37 anos, a ser praxado por pessoas que já tinham sido estagiárias dele. O Dr. Passos Coelho devia ter entrado na secretaria da Universidade Lusíada e, simplesmente, ter exigido a licenciatura a que tinha direito, em vez de perder o seu tempo a ouvir professores que não tinham um décimo da sua categoria. Para quê queimar as pestanas a estudar quando podia estar a queimar o couro cabeludo a governar?
As licenciaturas honoris causa já existem. Por exemplo, o Dr. Cristiano Ronaldo nem sequer sabe ler, mas ninguém hesita quando se decide tratá-lo por “Dr.”. Ele é “Dr.” pelos pontos que marca pela equipa de futebol de Portugal e, apesar de madeirense, é um dos melhores portugueses de todos os tempos. O ex-Dr. Miguel Relvas não é tão bom como o Dr. Cristiano, mas já deu provas ao país de que merece ter uma licenciatura. Ajudem-no, por favor.
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