A Operação Lava Jato continua sem fim à vista, mas há já políticos e empresários de peso que começam a ver o seu fim a chegar. É o caso do todo-poderoso da direita brasileira Eduardo Cunha, que até já chorou em frente aos seus amigos. O presidente afastado da Câmara dos Deputados está a ser investigado por crimes de corrupção e branqueamento de capitais mas, dado o seu cargo, os processos correm no Supremo Tribunal Federal. Segundo relatos de pessoas do seu núcleo forte, o que mais o destabiliza é a possibilidade de a mulher e a filha serem presas – ambas estão a ser investigadas na primeira instância.
Dias antes de ser detido Lúcio Funaro, um suposto intermediário de subornos, provenientes de grandes empresas, surgiram notícias dando conta de que as visitas habituais de Cunha já não são os seus aliados políticos, mas sim os seus advogados.
Tudo está a acontecer de forma muito rápida e Funaro pode ser mais um prego no caixão da vida política de Eduardo Cunha, uma vez que, segundo os investigadores, conhece todo o esquema de luvas instalado no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, cujos recursos – erário público – eram desviados para grandes empresas. Segundo o jornal “O Estado de São Paulo”, caso Funaro conte tudo o que sabe, os dias do presidente afastado da Câmara dos Deputados estarão contados. Ir preso preocupa Eduardo Cunha, mas nada que se compare com o que sofre com a situação da mulher, Cláudia Cruz, e da filha, Danielle Dytz.
Mulher de Cunha grita ao telefone Numa altura em que muitos dos aliados pedem que Eduardo Cunha renuncie à presidência da Câmara dos Deputados, vários já foram sensibilizados para o facto de este andar abatido. A imprensa brasileira diz que há quem peça aos aliados para não o deixarem isolado numa altura em que está fragilizado pelas investigações da Operação Lava Jato. E alguns aceitaram contar o que mais perturba o parlamentar: “Quando se fala da família, ele perde o equilíbrio, o que é normal.”
Um dos momentos que muitos lembram é uma chamada em que Cláudia Cruz grita com o marido enquanto ele tenta acalmá-la a todo o custo. A mulher de Eduardo Cunha foi acusada no mês passado por crimes de natureza económica na ação que envolve o português Idalécio Oliveira. Em causa estão suspeitas do pagamento de luvas de 10 milhões de dólares ao presidente da Câmara dos Deputados afastado – que acabaram por beneficiar Cláudia Cruz – com o objetivo de vender uma parte de um campo de petróleo à companhia estatal brasileira Petrobras. Além de Idalécio e de Cláudia Cruz foram também acusados Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da área internacional da Petrobras, e João Rezende Henriques, intermediário das luvas ligado ao PMDB (partido de Cunha).
O Ministério Público considerou nessa ação que “Eduardo Cunha e Cláudia Cruz se beneficiaram de recursos públicos que foram convertidos em bolsas de luxo, sapatos de grife [marca] e outros bens de uso privado”.
Cunha não foi acusado porque o seu processo corre em separado no Supremo. Mas é ele que tem tomado as rédeas da defesa de toda a família, e daí o corrupio de advogados lá em casa: prepara a sua defesa na Câmara dos Deputados e no Supremo Tribunal Federal, mas também a de Cláudia e de Danielle, que estão na mira do juiz federal Sérgio Moro.
A vida mudou por completo nos últimos meses, até dentro de casa. As conversas com as visitas são todas junto à piscina e os telemóveis ficam todos dentro de casa, para que nada possa ser escutado e usado contra ele. Conhecedores do seu poder e do seu feitio, os seus advogados já avisaram o deputado para não dar razões ao Ministério Público para desconfiar de que está a tentar manipular ou interferir na investigação. Ultimamente há quem diga que o vê com frequência na igreja Casa da Bênção, em Brasília.
O único hábito que o parlamentar – que foi um dos mais entusiastas no impeachment de Dilma Rousseff – mantém inalterado é o seu charuto Cohiba para relaxar.