Nos últimas semanas, o Arpão e o Tridente voltaram a ser notícia por causa dos seus custos de manutenção: uma antena radar de 410 mil euros e duas baterias principais no valor de 10 milhões de euros.
O i foi conhecer por dentro o Arpão, que está neste momento em período de manutenção na Base Naval de Lisboa, no Alfeite, depois de desafiado pelo chefe do Departamento de Submarinos da Marinha, Miguel Pereira.
Durante a visita ficou evidente a importância que a Marinha atribui à preservação da capacidade militar dos submarinos, comprados em 2004 por cerca de mil milhões de euros, com o principal objetivo de afirmar a soberania autónoma do país sobre uma vasta área marítima e plataforma continental.
Ao longo da conversa com o nosso anfitrião sobressaiu uma frase: “Ter os submarinos sem manutenção era como ter o Ronaldo a jogar com as chuteiras do Eusébio”. Figuras de estilo à parte, Miguel Pereira não tem dúvidas em afirmar que “o Tridente e o Arpão são dois dos melhores submarinos convencionais a operar a nível mundial” e a sua manutenção “é absolutamente vital e fundamental”. “Sem o relevantíssimo processo de manutenção perdiam a possibilidade de manter os padrões de segurança e ao mesmo tempo irem sofrendo pequenas alterações, ao nível do software dos sistemas, sem as quais não seria possível incorporar o que de mais moderno se vai desenvolvendo nesta área”, acrescenta o primeiro comandante do Arpão.
Questionado sobre os custos anuais de manutenção destes navios, Miguel Pereira respondeu que “não existe um valor fixo”. “O que se pode afirmar inequivocamente é que a Marinha procura cumprir rigorosamente o programa de manutenção recomendado pelos diversos fabricantes que constituem uma plataforma com a complexidade de um submarino”, diz o chefe de departamento destes navios.
“Material importado e de alta tecnologia” Miguel Pereira admite que os submarinos, bem como todo o material militar “são, de uma forma geral, equipamentos caros”. Uma realidade que se fica a dever, em grande parte, ao facto de se “tratar de material importado e de alta tecnologia”.
Confrontado com as críticas aos custos de manutenção, o responsável da Marinha considera que não faz “muito sentido aplicar uma muito significativa quantia de dinheiro na compra de dois submarinos novos e ultra modernos e depois questionar gastos relativamente muito menores na manutenção e preservação do investimento realizado”.
{relacionados}
A operação normal de um submarino e a pressão hidrostática a que estão sujeitos “provoca um desgaste mais acentuado do considerado normal” relativamente a uma qualquer outra plataforma no meio marinho e “não resta outra alternativa senão garantir elevados padrões de fiabilidade do material sob pena de na sua ausência se assistir a uma qualquer falha catastrófica de material, podendo dai resultar, em situações mais extrema a perda do submarino e da sua tripulação”, salienta.
“São caros mas são a arma dos pobres” Tal como o i já noticiou, os encargos de manutenção do Arpão e do Tridente já ultrapassaram os 12 milhões, de acordo com os contratos publicados no portal Base. Uma contabilização que não inclui o custo das baterias em fim de vida. Só em 2014 os gastos ascenderam a 9,4 milhões de euros.
Miguel Pereira insiste na ideia de que o custo dos dois submarinos até é mais baixo quando comparado com outros equipamentos militares, e tendo em conta a sua “capacidade de afirmação soberana e imposição coerciva da mesma numa dada área marítima”.
Para reforçar a sua posição, o responsável da Marinha recorda as declarações de António Costa num dos programas da “Quadratura do Círculo”, em que citou o ex-primeiro-ministro António Guterres quando este afirmou que os submarinos “são uma arma cara mas são uma arma dos pobres”.
Recorde-se que o contrato dos submarinos foi assinado no tempo de Paulo Portas, mas o processo de decisão começou ainda no tempo de Guterres. “Ao afirmar que ‘são a arma do “pobres’, António Costa “indica claramente que todas as restantes plataforma do designado poder naval são todas muito mais dispendiosas, como sejam os porta aviões, cruzadores e mesmo fragatas. São mais dispendiosas na aquisição, na manutenção e na operação obtendo, muitas vezes, um resultado estritamente militar de menor poder”, concluiu.