Um empresário italiano assaltou 12 dependências bancárias, ao longo de sete meses, para conseguir pagar dívidas à Segurança Social e créditos bancários, passagens sem pagar nas ex-Scut e alguns meses da pensão de alimentos que estavam em atraso. Com um cúmplice, Pietro Riccio juntou 92 mil euros. O julgamento arranca hoje no Tribunal de Matosinhos.
O método era sempre o mesmo: a dupla deslocava-se até à dependência que pretendia assaltar no carro próprio. Mario Stancampiano, o parceiro do empresário, ficava à porta com uma arma de plástico na mão. Pietro aproximava-se do balcão e pedia que lhe fosse entregue o dinheiro disponível em caixa. Nunca houve violência e a arma de plástico serviria apenas para dissuadir quem pudesse querer impedir a dupla de atuar.
Quando decidiu assaltar as dependências, o empresário estaria “com a corda no pescoço”, diz fonte ligada ao processo. Chegou a Portugal em 2009 e abriu o primeiro restaurante, em Paredes. Depois foram surgindo outros espaços: Felgueiras, Caminha, Barcelos e também Vigo, em Espanha. Alguns foram ficando pelo caminho e, ao mesmo tempo, com o decréscimo de rentabilidade do negócio, as dívidas foram crescendo. “Apertado”, o empresário optou por uma solução “abstrata”, que “não envolvesse um rosto” e em que não tivesse de recorrer à violência.
Roubo de 145 euros Os assaltos começaram em fevereiro do ano passado. O primeiro, a 24, teve como alvo uma agência do BPI de que foram levados menos de dois mil euros. Houve assaltos menos bem-sucedidos (no mês seguinte, a dupla só conseguiu levar 145 euros). Mas essa foi a única vez que os assaltantes apontaram a uma instituição privada.
A partir daí, só a Caixa Geral de Depósitos recebeu as visitas de Pietro Riccio e de Mario Stancampiano. Ao todo, os dois homens levaram quase 92,5 mil euros das dependências bancárias que assaltaram na região Norte do país. Viana do Castelo foi a dependência mais a norte, e Tondela o concelho mais a sul. “Foram 12 assaltos, mas podia ter sido só um”, terá desabafado o empresário.
O objetivo era juntar dinheiro para pagar um empréstimo de 30 mil euros, um reforço desse empréstimo, de 25 mil euros, as dívidas ao fisco (mais 20 mil euros) por passagens não pagas nas ex-Scut, uma dívida de cerca de 400 euros à Segurança Social e ainda quatro ou cinco meses da pensão de alimentos que devia à ex-mulher e ao filho.
Entregou provas à PJ O julgamento começa esta manhã. Pietro já confessou os 12 crimes e até terá ajudado a Polícia Judiciária a chegar aos casos em que esteve envolvido.
Em setembro, a dupla foi apanhada em Tondela à saída de mais um assalto, o último que realizariam. Estavam no carro a afastar-se do local de mais um assalto quando foram interpelados pelos inspetores da Judiciária, que seguia Pietro e Mario há alguns meses. O empresário confessou os crimes e apontou, um após outro, todos os locais em que tinha estado desde fevereiro.
A defesa espera agora que essa colaboração seja considerada pelo tribunal na atribuição da pena. Pietro Riccio “confessou os crimes e entregou mais de dois terços do produto da prova que havia contra ele mesmo, mostrando que todo o produto dos assaltos serviu para pagar as dívidas que tinha contraído”, refere ao i o advogado do empresário. “Isso não anula a prática dos crimes, mas poderá atenuar a pena atribuída”, espera Gil Balsemão.