As autoridades estão a investigar uma das empresas de Taiguara, a Exérgia Brasil, que está relacionada com uma empresa em Portugal, a Exérgia Projetos de Engenharia. Ambas com características que levantam algumas suspeitas e que fazem, por isso, os investigadores acreditar que existem ligações da teia ao país. Segundo o “Estadão” avançou, a empresa Exérgia Brasil tem como sócio, além de Taiguara, a Exérgia Projetos e Construções, com sede em Lisboa.
Esta última tem como administrador único João Manuel Pinto Germano, um advogado que terá é apresentado como tendo ligações ao PS e ao antigo primeiro-ministro José Sócrates. O braço-mistério português da empresa Exérgia Brasil, que não tem um único funcionário, fica em Lisboa, na Avenida D. João II.
No âmbito da chamada “Operação Janus” foram realizadas diversas diligências esta sexta-feira no Rio de Janeiro e em Santos, no Estado de São Paulo, incluindo as detenções de Taiguara dos Santos e de um sócio. Os dois homens foram detidos para prestarem depoimento.
A investigação, que corre ainda em segredo de justiça, aponta também para o ex-presidente do Brasil Lula da Silva.
A Polícia Federal acredita a Odebrecht terá sido beneficiada em obras no continente africano e na América do Sul. Tais obras, suspeitam ainda, terão sido financiadas pelo Banco Nacional do Desenvolvimento do Brasil.
Além das empresas brasileiras de Taiguara dos Santos e da ligação a Portugal, outra das empresas que está a ser passada a pente fino é uma sociedade também detida pelo sobrinho do ex-governante em Angola. Lula ainda não terá sido ouvido porque os inspetores da Polícia Federal (PF) querem analisar toda a informação recolhida nas diligências de sexta-feira antes de chamar o ex-presidente do Brasil.
A Odebrecht e Portugal As suspeitas agora levantadas por esta nova investigação brasileira parecem ir ao encontro da “Operação Marquês”. No inquérito português, que tem José Sócrates como o principal arguido, o Ministério Público também investiga ligações entre o ex-primeiro-ministro e a construtora Odebrecht, com a qual Lula terá uma relação privilegiada.
Tudo começou quando o MP português descobriu que foi esta empresa que pagou a viagem ao ex-presidente do Brasil para estar presente em Portugal, aquando da apresentação do livro de José Sócrates, em Outubro de 2013.
Além disso, a construtora detém atualmente a Bento Pedroso Construções, que – juntamente com o Grupo Lena – integrava o Consórcio Elos. O mesmo que venceu o concurso para a construção do troço do TGV Poceirão-Caia. E não foi caso único. Foi também o consórcio de que faziam parte as duas empresas que venceu a concessão do Baixo Tejo, uma das parcerias público-privadas. Mais tarde acabaram por assinar ainda um contrato para a construção da barragem do Baixo Sabor.
A “Operação Janus” vem, assim, apertar ainda mais o cerco montado pelas investigações Lava Jato (Brasil) e Marquês (Portugal) aos responsáveis das duas empreiteiras. O presidente da construtora brasileira foi já detido pelas autoridades daquele país por suspeitas de estar envolvido no esquema que terá levado a um prejuízo de mais de dois mil milhões de euros para a estatal Petrobras. E, em Portugal, o administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca também já foi detido e aguarda agora em liberdade pelo desenrolar da investigação. Além deste, Carlos Santos Silva, ex-administrador do grupo de Leiria e amigo de José Sócrates, chegou a estar em prisão preventiva, estando atualmente apenas proibido de se ausentar de Portugal sem autorização prévia.
Reação de Lula da Silva Em comunicado, o Instituto Lula já reagiu à “Operação Janus”: “Há mais de um ano, alguns procuradores da República no Distrito Federal tentam, sem nenhum resultado, apontar ilegalidades na conduta do ex-presidente Lula”.
Ilegalidades que o Instituto afirma nunca terem existido. “Os procuradores vasculharam as viagens internacionais de Lula, quem o acompanhou, os hotéis em que se hospedou, com quem ele conversou no exterior”, refere a mesma nota, concluindo que “o resultado [da investigação] apenas comprova que Lula sempre atuou dentro da lei, em defesa do Brasil, como fazem ex-presidentes em todo o mundo.”